Máquina Plek

O assunto deste post não é propriamente novo no mundo da guitarra, porém, este é o primeiro site em Português que visita a fábrica e publica detalhadamente.

Do que se trata?

A máquina Plek é uma invenção alemã que busca levar o ajuste de instrumentos de corda até à perfeição, algo que é impossível fazer com o trabalho manual.

Como funciona?

Basicamente é uma máquina CNC que tem a capacidade de medir e digitalizar toda a escala do braço do instrumento com precisão e determinar os ajustes necessários.

A mesma máquina além da medição depois realiza as correções com brocas e abrasivos automatizados, também controlados por computador.

Por ser uma máquina programável, outras coisas são possíveis como por exemplo remover um nut antigo escavando e fazer um do zero… e foi isso tudo que fomos fazer. Vamos lá?

Pé na estrada, seguimos para Berlim onde fica fábrica que criou e produz a máquina.

A fábrica está localizada perto centro, e um bairro que se mistura com uma área residencial agradável e silenciosa.

Em uma primeira visão parece coisa de filme de ficção científica, mas olhando de perto tudo vai fazendo sentido e é incrível o que foi feito apenas pensando no conforto e performance ao tocar um instrumento.

Parece uma geladeira gigante e pesa aproximadamente 400kg.

Acomoda perfeitamente instrumentos como violões, guitarras e baixos. Obviamente instrumentos menores como Ukuleles também podem ser tratados pela máquina.

Este modelo da foto é o mais moderno produzido atualmente, que inclui cabeças automatizadas que não necessitam de intervenção humana para mudar de brocas e abrasivos. Tudo fica dentro de um compartimento e a máquina seleciona o que necessita utilizar.

Os modelos mais novos também já fazem a limpeza automática e são equipados com aspirador de partículas.

As máquinas mais antigas não possuem estes recursos, o que envolve mais trabalho manual e também deixa todo o serviço mais lento. Ainda assim, elas fazem em uma tarde o que uma pessoa levaria dias para fazer e com uma precisão imbatível.

Como falado anteriormente, a máquina é controlada por um computador com um software especial também desenvolvido pela marca. O mais interessante é que roda windows normal e está conectada na internet, dando a possibilidade para os técnicos realizarem ajustes e configurações de forma remota nos diversos clientes espalhados pelo mundo, tudo em tempo real.

Por isso mesmo que a máquina está em constante evolução e a cada nova função adicionada, basta realizar tudo online e os próprios técnicos que desenvolvem podem ajustar tudo sem ter acesso físico ao equipamento.

No topo da foto é possível ver a broca utilizada para realizar trabalhos no nut, na parte central este pino que parece de latão percorre as cordas, trastes e toda a escala para medir as dimensões.

Na parte de baixo é possível ver um disco giratório de titânio que realiza o desbaste dos trastes. Este disco é todo “talhado” na fábrica com brocas de diamante e o processo leva cerca de 10 horas.

Após a produção destas ferramentas, tudo é verificado e medido com um microscópio:

O serviço mais popular realizado pela máquina é o de retifica de trastes.

O método manual tradicional envolve lixar todos os trastes até que estejam todos na mesma altura.

O problema é que fazer isso em trastes novos faz com que se perca muito material, e por ser novo isso é algo bastante negativo.

A coisa fica mais complicada quando o desbaste é feito para corrigir trastes já gastos e normalmente só é possível fazer uma ou duas vezes antes de ter de trocar os trastes do instrumento.

Com a máquina Plek os trastes novos permanecem novos, e os antigos apenas recebem desbaste nos pontos em que são necessários para que todos fiquem perfeitamente alinhados. Genial, não?

No caso de instrumentos muito caros / raros, é uma solução muito útil para evitar ao máximo tirar a originalidade do instrumento.

Um exemplo disso é a escala de maple que normalmente tem de ser lixada e receber um novo verniz, o que em um instrumento vintage é impensável de fazer. Isso sempre foi um problema pois para não fazer esse procedimento a única opção era compensar nos trastes novos, que acabam sendo muito desbastados e diminuindo assim o tempo útil.

Como a máquina cria uma imagem virtual de como está a escala, ela também detecta torções no braço do instrumento e consegue fazer a compensação nos trastes.

É claro que em casos mais graves é necessário colocar trastes novos e mais altos para que o serviço fique perfeito, mas ainda assim é possível recuperar um instrumento condenado.

Isso não é dramático e todo instrumento pode ter um pouquinho de torção no braço e algumas marcas até fazem isso de forma intencional.

Além da visita, levei uma das minhas guitarras para receber um serviço completo para demonstração. Vale lembrar que a fábrica não realiza serviços, apenas fabrica e vende máquinas. Quem desejar ter o seu instrumento verificado e corrigido deverá procurar lojas e oficinas que possuam a máquina.

Infelizmente no Brasil / América do Sul ainda não existe nenhuma máquina Plek.

São fáceis de encontrar na América do Norte, Europa e Ásia.

A guitarra escolhida para passar por todo o processo foi uma Harley Benton T-Fusion, um instrumento acessível e com características muito interessantes como tarraxas com locking e trastes inox.

Já tenho a guitarra faz uns 3 anos e queria saber como estavam os trastes como vieram de fábrica, verificar se havia alguma torção no braço e também fazer um nut novo. O nut original era Graphtech mas os slots não foram lá muito bem feitos e decidi fazer um novo, desta vez de osso por uma questão de preferência pessoal.

Resumo das verificações e serviços realizados:

Medição completa da escala e dos trastes.

Remoção do nut antigo por desbaste.

Instalação do novo nut de osso, recorte e slots feitos também por desbaste.

Alinhamento dos trastes.

Alteração do raio da escala ( já iremos falar disso mais lá para a frente )

A primeira coisa é ligar a máquina e esperar que ela se calibre sozinha, o que leva aproximadamente 10 minutos.

Após tudo funcionando é hora de instalar a guitarra com fitas que garantem que o instrumento não vai se mover e também são feitas de materiais que não riscam nem danificam a madeira. Após todo o processo a guitarra sai sem nenhum sinal.

Algumas fábricas de instrumentos de alto padrão utilizam estas máquinas já na linha de produção para garantir instrumentos perfeitos e todo o serviço é feito sem deixar marcas.

O serviço não é tão simples quanto apertar um botão e a guitarra sair de lá pronta. São muitos os processos e tudo o que foi feito nessa guitarra levou aproximadamente 6 horas e incontáveis xícaras de café.

O primeiro passo após fixar o instrumento é afinar para que o braço seja medido recebendo a força das cordas em uma condição normal de uso.

Após afinar, a máquina irá realizar uma digitalização completa do braço que leva 15 minutos e irá indicar se é necessário ou não ajustar o tensor antes da próxima etapa.

No caso dessa guitarra fazia muito tempo que eu não fazia ajuste algum e a máquina acusou a necessidade de realizar o ajuste do tensor e recomeçar a medição. Ela foi ajustada, novamente afinada e ficou mais 15 minutos para ser medida.

Após uma leitura com cordas, com o tensor ajustado e afinada, é a vez de remover as cordas e voltar a medir tudo novamente.

Com essas duas medições a máquina consegue comparar e determinar como esse braço responde com as cordas instaladas e também quais são as correções necessárias a serem feitas. Abaixo o resumo da situação da ação das cordas. Um pouco altas para um instrumento com abordagem moderna, mas na condição que estava não tinha como deixar mais baixa.

Sem cordas também a máquina tem a possibilidade de criar uma imagem perfeita de cada traste e fazer todos os cálculos e gráficos para termos uma imagem virtual com precisão.

A guitarra tinha um raio 12, mas a medição mostrou um desnível entre eles e também uma ligeira torção no braço que não era propriamente crítica e estava dentro dos limites tolerados.

A guitarra é anunciada como raio 305mm / 12 e a máquina é precisa a ponto de mostrar o valor real de cada um. Como a imagem mostra, eles variam entre 11.4 e 12.4, ainda assim dentro do aceitável considerando que foram instalados manualmente na fábrica.

Agora a questão que falei anteriormente sobre alterar o radio da escala. Não estava bem nos planos….

Normalmente para se trocar o raio da escala é necessário tirar os trastes, desbastar a escala para o novo raio e então instalar novos trastes curvados com o raio desejado.

Com a Plek é possível fazer um raio “fake” e é aí que resolvemos brincar.

A guitarra tem trastes inox e além de não terem nenhum desgaste, o que é normal, eram extremamente altos e tínhamos muito material para trabalhar, foi então que surgiu a ideia de deixar a guitarra ainda mais confortável criando um raio composto.

Com a máquina é possível fazer isso sem tirar nenhum traste. A escala de madeira e as bases dos trastes continuaram raio 12, mas desbastamos material dos trastes para fazer um composto 11 – 15.

Mais legal ainda é a possibilidade da máquina calcular e executar exatamente quanto cada traste precisa ter de raio para ter uma relação perfeita.

No processo manual normalmente é feito lotes de trastes 11, outros 12 até chegar no 15.

Nesse caso a máquina sugeriu e os trastes ficaram de 11.4 até 15 após o serviço.

Medição antes e depois da mudança de raio:

Agora o depois, com a escala com um raio perfeitamente calculado e tudo alinhado:

No processo de mudar o raio já foi feito ao mesmo tempo o alinhamento dos trastes e a máquina teve em consideração e corrigiu a ligeira torção que o braço tem, tudo só no desbaste dos trastes. Esse foi o resultado final do ajuste individual:

Como tinha muito material para remover, mesmo após o serviço os trastes ainda ficaram bem altos, perfeitos e como são inox é um serviço que fica feito praticamente para sempre.

Isso possibilitou ter este resultado fantástico de ajuste de ação final das cordas:

Para quem aprecia conforto e velocidade, melhor é impossível. Não sou um guitarrista virtuoso, mas esse modelo em questão tem toda uma abordagem moderna com vários upgrades em relação ao projeto da tele tradicional e valia a pena deixar a performance dela ainda mais alta.

Tudo que tinha para fazer no braço foi feito e agora era a hora da próxima etapa, o nut.

O nut pode ser removido manualmente com algum cuidado, mas dependendo de como foi instalado e a forma como foi colado pode danificar a madeira ao remover e é claro que a Plek também resolve esse problema.

Após medir as dimensões do braço, ela sabe exatamente onde está o nut e vem com uma broca desbastando até chegar na madeira, na base do antigo nut. Os dois pontinhos brancos foram as bases do antigo nut que eram cravadas na madeira e que sobraram após o desbaste.

Novo nut instalado e colado:

Decidimos aguardar a cola secar para evitar problemas e fomos analisar os gráficos e definir os passos e configurações para fazer um nut novo.

Tanto o nut como os saddles estavam completamente fora das margens ideais após análise e ela também apresentou a solução ideal com base no espaçamento dos saddles e dimensão da escala do instrumento analisado.

É claro que ainda assim o usuário pode customizar e alterar esses parâmetros e fazer algo totalmente a gosto. Eu confiei no cálculo pois sugeria um resultado simétrico, e foi o que aconteceu.

Com o novo nut feito, todos os parâmetros ficaram dentro das margens de tolerância. Este gráfico mostra já após o nut estar pronto, mas todo o processo é demorado pois envolve medir o tempo todo após cada procedimento e isso não tenho como documentar em fotos.

Após desbastar e fazer os slots do novo nut, o resultado é esse:

Como é visível, o nut ainda está completamente quadrado e áspero, assim como os trastes ainda apresentam marcas microscópicas dos locais em que foram desbastados.

Tanto o nut como os trastes, o polimento final é manual e leva poucos minutos pois é mais uma questão de dar brilho.

O nut ainda deu um pouco mais de trabalho pois foi arredondado com uma lixa e só depois polido.

Aqui o resultado final, mas ainda não acabou 😀

Depois de todo esse vai e vem, é preciso colocar as cordas, afinar e voltar para que a máquina possa atestar o resultado do trabalho e confirmar que o pretendido foi alcançado:

O gráfico mostra os picos na parte de baixo que representam os trastes, e a curvatura normal do braço provocado pela tensão das cordas.

É difícil de ver, mas na linha verde mesmo colada nos trastes existe uma linha laranja visível em apenas alguns pontos.

Esta linha laranja representa o que foi alcançado, e a linha verde o ideal projetado pela máquina. A precisão do ajuste é tão grande que as duas linhas basicamente se sobrepõem.

Na parte de cima com esta fita amarela temos a linha laranja que representa a ação medida e a linha verde que representa a ação ideal projetada pela máquina.

Essa fita amarela é a margem de tolerância e como podemos ver a diferença é desprezível e de todas as medições esta é a que está mais sujeita a variações.

É sabido que o instrumento muda de som conforme é tocado, e me atrevo dizer que virou outro instrumento após esse serviço.

A forma com que seguro o braço é outra, e a forma como toco essa guitarra mudou completamente. Consequentemente o som também mudou e agora é muito mais fácil fazer tudo o que quero para tirar som dela.

A perfeição nem sempre é o objetivo, e sinceramente em um instrumento antigo ou vintage-specs não faz sentido fazer um setup “Ferrari” como esse, mas ainda assim a Plek pode colocar o instrumento dentro dos padrões originais respeitando e reproduzindo até mesmo as suas inconsistências que fazem parte do seu caráter e charme.

Quero agradecer ao pessoal da Plek desde o fundador aos funcionários por permitir não só conhecer onde são feitas essas máquinas incríveis, mas permitir também fazer o serviço em uma das minhas guitarras para mostrar aqui no blog. Foram todos muito amáveis e é sempre um prazer estar na presença de todos eles. Este que vos escreve feliz da vida no parque de diversões:

Como post bom é post com vídeo, fiz uma pequena compilação de forma cronológica desde a primeira medição até a finalização manual com polimento.

Fender Blackface Concert Amp 1963

Não é todo dia que temos a chance de ver um exemplar desses. Ter a oportunidade de tocar é ainda mais rara, e de prestar um serviço de manutenção é uma autêntica mosca branca dos olhos azuis.

Por esses dias foi bem isso que aconteceu e por ser algo fora do comum decidi documentar aqui. Recebi uma mensagem de um colecionador de equipamentos vintage pedindo uma ajudinha pois uma das suas joias preciosas apresentava um ruído rasgado que parecia acompanhar a dinâmica das notas tocadas. Quando em silêncio o problema não ocorria. Apenas no canal “Normal” havia esse problema. No mais o amplificador funcionava bem.

Já sabia que se tratava de um amplificador Fender antigo, mas quando fui buscar é que entendi melhor o tamanho do achado.

Esse modelo foi ums dos primeiros a inaugurar a era “Blackface” após a antiga série Tweed da Fender começar a sair de cena.

Lançado em 1960, foi produzido em duas fases até 1965, quando a Fender pulou do circuito AA763 para o tão famoso AB763 que passou a incluir o reverb e foi utilizado em muitos modelos como Deluxe Reverb, Vibroverb, Super Reverb e Twin Reverb.

A unidade que me chegou em mãos foi produzida em 1963 e pelo número de série foi possível verificar também que foi uma das primeiras:

Este modelo nunca foi modificado e por ser produzido para utilização local, ainda possui o cabo de força original e funciona em 117v, sendo necessária a utilização de um transformador pois está na Europa onde o padrão é 230v.

Após um teste rápido o problema era bem evidente então já levei para a bancada desmontado para uma primeira inspeção visual para entender qual era a condição geral do amplificador.

A primeira coisa que gosto de fazer em qualquer amplificador é verificar o chassis na parte superior pois muitas vezes logo de cara é possível ver modificações nos transformadores, soquetes e começa a dar uma ideia do que vamos encontrar lá dentro.

As tampas utilizadas para cobrir alguns furos para válvulas se devem ao fato desse chassis ser utilizado para a fabricação de diferentes modelos na época, então quando sobrava colocavam estas tampas.

Para a idade do amplificador fiquei espantado com a condição perfeita dos transformadores, todos originais:

Outro ponto importante a se analisar em um primeiro momento é a condição das válvulas e verificar também os soquetes, se estão em bom estado, limpos ou se foram substituídos por de qualidade inferior, o que infelizmente é muito comum.

Notei algumas válvulas de pré um pouco microfônicas com o conhecido teste de ligeiras batidas com o amplificador ligado, mas ainda assim não era a causa do problema pois coloquei válvulas novas para despistar e o problema persistiu.

Os soquetes são todos originais e apesar de ótimo estado estavam muito sujos, assim como os terminais das válvulas. Causa do problema ou não, uma limpeza profunda foi necessária o que é sempre bom, mas também mostrou não ser a causa do ruído.

É legal ir fazendo por etapas, começando pelo óbvio e também pelo tipo de serviço que tem de ser feito de qualquer maneira.

Antes mesmo de virar e ver por dentro, era hora de abrir o compartimento dos capacitores de filtro carinhosamente apelidado de “dog house”.

Foi aqui que as coisas começaram a ficar interessantes. Uma das primeiras coisas a dar problema em um amplificador antigo assim são os capacitores da fonte, e ao abrir foi possível ver que quatro foram substituídos e ficou ali um original, solitário.

Já de cara eu sabia que também não era a causa do problema, pois o segundo canal funcionava perfeitamente. Esses capacitores afetam todo o circuito, e se houvesse um defeituoso o problema iria aparecer nos dois canais.

E por qual razão alguém iria colocar 4 capacitores novos de alta qualidade e deixar um antigo?

Esse foi o ponto principal durante todo o serviço que realizei no amplificador.

A cada peça substituída, menos original e menos valor de revenda o amplificador vai ter.

É uma unidade de milhares de dólares então vai muito da interpretação que o dono tem das coisas.

Do ponto de vista técnico, tudo o que pode comprometer a integridade do circuito e a performance deveria ser substituído.

Mas quem coloca isso na balança é quem pagou uma fortuna. Para tocar em casa ou fazer gravações é até “aceitável” deixar no lugar o que está funcionando, mas assume-se um risco.

Como o dono em questão quer o mais original possível, me pediu para tratar do problema e só substituir componentes caso existisse um problema, caso contrário o que é antigo era para manter.

Isso traz alguma complexidade e frustração pois até mesmo para despistar o ideal era ter a liberdade de tirar provisoriamente alguns componentes, mas até isso iria alterar a originalidade do circuito e seria visível que foram feitos trabalhos de solda, mesmo que os componentes originais voltassem para os seus lugares.

Como tudo parecia bem com os capacitores de filtro e nada ali ia ser substituído mesmo, fechei e finalmente fui ao que interessa:

Mais uma vez, praticamente tudo está no estado original. Assim como no compartimento dos capacitores da fonte, no circuito apenas foram substituídos três capacitores de bypass que assim como os da fonte secaram e deixaram de funcionar. Permaneceu apenas um “laranjão” ali na esquerda que passou a grande candidato ao motivo do problema, pois atua na primeira válvula no canal “Normal”.

Com conectores jacaré coloquei um eletrolítico novo com um valor mais alto em paralelo para ver se o ruído parava ou atenuava e constatei que apesar de muito feio, este velho capacitor laranja também não era a origem do problema.

Quase todas as soldas originais, tudo impecável e fiz questão de inspecionar uma por uma com a lente de aumento.

Próximo teste, condutividade. Estas placas na verdade são uma espécie de cartão prensado, e a utilização de estanho com fluxo + umidade criam uma meleca na superfície da placa que começa a conduzir eletricidade.

Isso é fácil constatar ligando o multímetro em escala de milivolts e medindo a tensão na placa, foi então que constatei que vários pontos conduziam eletricidade, na casa dos 0.5v.

Parece insignificante, mas é o suficiente para aumentar bastante o ruído “hiss” do amplificador e também induzir outros ruídos a depender do ganho do sinal, o que era um dos sintomas.

Para se ter a certeza, só testando.

A limpeza envolveu muitos cotonetes e Álcool isopropílico até sair toda a meleca da superfície da placa e ficar tudo limpo.

Tive de tirar os parafusos e realizar essa limpeza por baixo também.

Para garantir que nenhuma umidade restou, também utilizei ar quente para remover qualquer resquício de água.

Apesar do Álcool algumas sujeiras na verdade eram manchas e não saíram, mas acabou por ser apenas algo estético no final.

A limpeza mostrou um efeito muito positivo no som geral do amplificador que voltou a ser muito silencioso e limpo como esse circuito tem que ser, mas o problema no primeiro canal ainda estava lá rindo da minha cara.

O médoto que mais gosto para identificar defeitos é ir por exclusão de partes dividindo o circuito em blocos.
Hora de pontuar as coisas:
Os transformadores estavam bem pois o canal 2 funcionava bem.
O mesmo com as válvulas.
O circuito da inversora de fase é utilizado pelos dois canais, então eu também tinha a certeza que estava bem.
Só restava o minúsculo circuito do canal 1.
Como o capacitor de bypass não era, resolvi desligar o amplificador, remover a válvula e medir os resistores.
Normalmente com o tempo eles alteram muito o valor original, normalmente para cima e começam a aquecer muito ao ponto de criar ruídos de “quebra” dependendo do ganho. Fortes candidatos.
Para o meu espanto, todos estavam nos valores exatos, o que é raro para um resistor carbon comp mesmo produzido nos dias de hoje com toda a tecnologia disponível. Definitivamente eles pareciam todos bem.

Por exclusão, só sobravam quatro capacitores, um de “decoupling” e três que atuam nos controles de graves e agudos.

Esses “blue caps” são o horror de muitos técnicos que fazem serviços nesses amplificadores, e todos eles reclamam que a maioria dos problemas nesses amplificadores começam neles.

Temos que ter em consideração o ano de fabricação e os materiais disponíveis na época e entender que isso é normal acontecer pois nada dura para sempre.

Mas como testar isso mais uma vez sem por a mão no ferro de solda?

É possível de muitas formas, como por exemplo com um injetor de sinais e um osciloscópio para ver em qual ponto do circuito o sinal começa a ficar degradado.

Mas antes de ir para uma análise tão profunda, existe outro teste superficial que pode ajudar.

Uma função em comum desses capacitores é de bloquear corrente DC, e quando estão defeituosos eles começam a vazar, e um comportamento comum é gerar ruído ou deixar o som extremamente metálico.

Os controles podem começar a fazer barulho quando girados, e muitas vezes pensamos que são potenciômetros sujos ou gastos, mas na verdade é algum capacitor bandido causando isso tudo.

Hora de injetar sinal e medir um a um e ver se detectamos fugas.

Foi aí que encontrei o malandro vazando cerca de 1v:

Bom, eu tinha a autorização para trocar o que tinha que trocar. Tenho guardado alguns capacitores NOS (new old stock) vintage para essas ocasiões especiais que nunca acontecem e um deles era exatamente do valor necessário. Consegui algumas unidades feitas na República Tcheca produzidos nos anos 60/70 modelo “Axial” com o tamanho perfeito para esse circuito.

Localizado, fiz a substituição com muito cuidado, na eventualidade de instalar o original novamente em caso de necessidade.

Capacitor substituído, ligado, testado e problema resolvido. O bichinho voltou a cantar bonito.

Além das limpezas e dessa reparação, também verifiquei todos os parafusos e jacks, bem como aquele tapa no ajuste de bias para tudo ficar no lugar.

Foi uma oportunidade incrível ter em casa essa pedeaço de história por uns dias e também poder abrir e realizar esse serviço.

É claro que ele não iria voltar para o dono sem que eu antes tirasse uma casquinha:

Comparação TS808

Uma das grandes curiosidades que sempre tive foi de poder testar o mesmo circuito com componentes diferentes.

Existem muitos circuitos, muitas modificações e infinitas discussões na internet sobre o que faz ou não diferença.

O que é fato é que apesar de tanta conversa, é praticamente impossível encontrar algum material publicado apenas com essas impressões e tudo que encontrei até hoje fica apenas no terreno das argumentações e opiniões pessoais.

Ultimamente montei muitos pedais para amigos e decidi que era a hora de colocar a mão na massa e realmente testar e documentar a experiência para então poder emitir uma opinião.

O pedal escolhido foi um dos mais icônicos da história da guitarra, e de longe o que mais traz discussões sobre modificações, bem como quais componentes irão realmente fazer a diferença.

O TubeScreamer modelo TS808 foi lançado em 1979 e nesses 44 anos de vida foi o pedal mais vendido da história e continua sendo popular para diversos estilos e aplicações.

Muitas outras versões vieram depois como TS9, TS5, TS10, mas foi a versão TS808 a mais popular, a ponto da marca entender esse anseio do público e retomar a produção em 2004.

Perdi as contas de quantos pedais desse estilo já montei e sou suspeito para falar pois também é dos que gosto mais.

Então vamos lá, a proposta é a seguinte:

Montar dois pedais exatamente com o mesmo desenho de placa de circuito impresso, os mesmos valores e marca dos potenciômetros, todos os componentes com os mesmo valores, medidos um a um para não ter trapaça.

Então, qual seria a diferença entre eles?

Um dos circuitos decidi utilizar componentes modernos e diferentes do pedal original.

No segundo circuito tentei chegar o mais próximo dos componentes originais da versão lançada em 1979, utilizando componentes modernos mas com os mesmos materiais da época.

Ambos receberam os melhores componentes que encontrei e coloco aqui a diferença entre eles em detalhe.

Versão moderna:

Resistores Vishay Metal Film 1% 0.6w

Capacitores WIMA MKS2

Capacitor Vishay Silver mica

Versão antiga:

Resistores Ohmite Carbon Comb 5% 0.25W

Capacitores Wima MKS2

Capacitores Vishay tântalo

Capacitor Vishay Cerâmico

Capacitores eletrolíticos Nichicon

Partes em comum:

Capacitores eletrolíticos Panasonic Gold

Circuito integrado JRC4558D (reedição)

Transistores 2N5088 – Central Semiconductor

Diodos 1N914 Vishay

Tanto os transistores como os diodos foram medidos, selecionados e possuem os mesmos valores.

Potenciômetros Alpha 16mm

Jacks Switchcraft

GORVA Mechano 3PDT footswitch

Com alguma sorte encontrei o conector da fonte vermelho e um dos pedais ficou bem temático.

É muito clichê esse pedal com motivos verdes, então coloquei vermelho na versão moderna pois a placa foi preenchida com os capacitores alemães WIMA e na versão antiga knobs cor de cobre antigo, que também carrega a referência dos resistores carbon comp utilizados.

Já foi o tempo em que eu tinha a paciência de lidar com tinta e hoje em meus pedais coloco etiquetas que imprimo naquelas máquinas tipo Dymo que apesar de ficar com um aspecto simples são muito resistentes.

Aproveitando que um TS9 convertido pela Analogman para TS808 resolveu aparecer, é hora de contextualizar e ir para a comparação.

Para poder comparar de forma justa foi necessário montar também uma caixa AB box com chaveamento mecânico que apenas desvia a entrada e a saída para um ou para outro pedal. Bem simples e funcional.

Antes do vídeo uma opinião.

A versão moderna nada mais é que uma modificação muito comum que se faz trocando os eletrolíticos de 1uF e os de tântalo 220nF por capacitores de polyester.

É claro que esta versão também possui resistores modernos e super silenciosos.

Essa “mod” basicamente deixa o pedal mais limpo e o drive um pouco mais ardido e responsivo. É parte da “Silver mod” feita pela Analogman. É uma alternativa interessante para quem quer um Tubescreamer mais limpo com o Drive no zero e também uma saturação um pouco mais ardida.

Sim, a diferença é muito pequena, e é mais fácil de ser sentida por quem toca, com os dois pedais no chão com um AB box como eu fiz.

A versão antiga preserva as características do projeto original e tem um som mais fechado/abafado, com uma saturação macia mesmo com o Drive no zero. Com o controle no máximo o overdrive permanece macio e tem aquele ronco anasalado bem característico nas notas mais graves.

Mais do que as minhas palavras, deixo aqui um vídeo e cada um tira a sua conclusão. Recomendo a utilização de fones de ouvido para perceber melhor os detalhes.

E para quem se perguntou sobre o TS9 Analogman da foto, também rolou um vídeo.

Resolvi comparar com a versão antiga pois é a que se aproxima mais, e incrivelmente o original soa ainda mais fechado, mas com a mesma consistência.

Ceriatone – Overtone Special

Montar amplificadores de guitarra é algo viciante, e a saga começou ainda no final do ano passado em Novembro de 2021, quando viajamos de carro, eu e o meu amigo guitarrista Giacomo Ghezzi até Nuremberg para testar alguns amplificadores Two Rock que tinham acabado de chegar em uma loja da cidade.

BTM Guitars – Nuremberg – Alemanha

Concordamos que os amplificadores eram realmente sensacionais, ao melhor nível de equipamento de butique que o dinheiro pode proporcionar.

O que não concordamos é no fato de (naquela época) apenas um head de 35w custar 3500 euros.

Infelizmente o preço não para de subir.

Como podem ver no blog, já fiz alguns amplificadores anteriormente e decidi que seria sim possível construir algo com alta qualidade e ainda mais fiel ao objetivo inicial.

Os amplificadores Two Rock são baseados nos Dumble e são considerados uma alternativa para quem não tem a menor condição de andar em leilões disputando um por lances iniciais de 100 mil dólares.

Na nossa análise após testar esses amplificadores, entendemos que são baseados, mas muito modificados pois os controles são diferentes dos modelos clássicos Dumble e contam com uma série de alterações como reverb e diferentes níveis de overdrive.

Obviamente essa foi a nossa impressão, e também a nossa opinião.

Outra marca que tive a oportunidade de testar em outra ocasião foi a Amplified Nation, que faz clones mais fiéis e com base nisso também concluí que havia ali muita modificação na ideia original.

Com isso, comecei a estudar a possibilidade de montar um Dumble-Like com características mais fiéis ao original, componentes de alta qualidade e um toque pessoal na construção com as técnicas que gosto de aplicar nas minhas montagens.

Considerando os custos, os kits sejam eles quais forem ainda são imbatíveis e apenas existe uma empresa fazendo kits Dumble, a Ceriatone.

Uma empresa da Malásia especializada em amplificadores de butique e que além de vender amplificadores prontos, também vendem partes e kits para quem tem vontade de montar.

Infelizmente comprar o amplificador pronto é insano pois além dos custos altos de transporte, a fila de espera é de 11 meses pois são todos feitos manualmente por encomenda.

Eu queria mesmo é montar, então decidi ir apenas para o kit sem válvulas e sem gabinete, apenas o chassis.

O modelo escolhido foi o Overtone Special, que trata-se do Overdrive Special, na sua versão 50w, muito popular e utilizado por guitarristas como Robben Ford e Joe Bonamassa.

O amplificador além de ter um clean incrível e super cheio, mesmo em altos volumes não satura.

O overdrive é muito polido e pode chegar até uma distorção com ganho considerável.

Todos os componentes são de alta qualidade e ao contrário de outras marcas que vendem kits, as placas já estão pré montadas e é mais uma questão de fazer toda a parte de ligação de fios e componentes que necessitam de montagem ponto a ponto.

Os transformadores já vieram instalados, mas no caso do de potência foi necessário inverter para ficar de acordo com o diagrama disponibilizado pela marca.

O primeiro passo foi instalar todas as placas e começar a organizar toda a fiação para soldar nos lugares corretos, mas também passar pelos lugares corretos. Em um amplificador valvulado qualquer coisa dá ruído e a organização dos fios é crucial.

Tudo instalado, é hora de começar com as ligações nos soquetes. Normalmente gosto de começar com as válvulas de pré pois toda a parte de potência requer mais componentes ponto a ponto e o trabalho é maior. Prefiro chegar nessa etapa com menos fios para que tudo fique bem organizado.

Assim que a parte de pré ficou finalizada, iniciei os trabalhos na parte de potência em que muitos componentes ficam suspensos e são soldados diretamente nos soquetes, potenciômetros etc…

Toda essa primeira etapa foi na parte traseira onde estão localizadas as válvulas e após finalizado foi o momento de iniciar todas as ligações no painel frontal.

A última parte foi a fonte de alimentação que é um pouco complexa pois são três placas diferentes. Uma para alimentação dos relés, outra para a parte de bias e uma para a alta tensão.

A última coisa que sempre faço nos amplificadores por uma questão de praticidade é a ligação dos filamentos. Feito isso, tudo certo para o primeiro power up e ver se tudo está dentro do que se pretende.

Amplificador finalizado e funcional

O primeiro power up faço sempre sem válvulas para medir todas as conexões e verificar se existe algum erro. Passado no teste inicial é hora de colocar as válvulas.

O set escolhido de pré e power são da Tube Amp Doctor da série Premium, marca que tenho trabalhado nos últimos anos e os resultados são sempre incríveis.

Os modelos escolhidos são:

3x Preamp (12AX7) RT010 Tube 7025 Highgrade
2x Power 6L6GCM-STR Redbase

Válvulas instaladas, hora de fazer um teste rápido e um pré ajuste de bias.

Após um pré ajuste de bias para um nível seguro, o próximo teste é verificar o som e por último se todos os controles e funções estão funcionando corretamente.

Foi uma construção 100% do início ao fim, sem erros. Tudo funcionou legal e parti para um ajuste fino de bias e depois disso o amplificador ficou em teste por algumas horas, sempre verificando todas as tensões correntes nos intervalos.

O tempo de construção do circuito foi de aproximadamente duas semanas, pois fiz com muita calma e apenas nos dias livres em que estava descansado. Trabalhar nesse tipo de projeto com pressa ou cansaço é a receita do desastre então recomendo sempre ir devagar.

O circuito em si na verdade ficou pronto e funcionando em fevereiro, mas o projeto apenas foi finalizado em agosto, quando todas as partes necessárias chegaram.

Como indiquei no início do post, peguei o menor kit e faltavam todos os gabinetes de madeira.

A empresa responsável por fazer todos os gabinetes de madeira foi a Tube-Town e o tempo de espera varia entre 2 a 4 meses em alguns casos.

Havia a possibilidade de fazer a versão combo, mas o peso final do amplificador seria absurdo, mais de 40kg.

Esse peso todo deve-se ao fato de só o falante ter 8.6kg. E por falar nele, o modelo escolhido foi o mesmo recomendado originalmente pelo Dumble e trata-se do Electro-Voice EVM 12L Classic 8 Ohm – 200w. O falante era algo sempre do gosto do cliente, mas era essa a sugestão do fabricante. Além de uma sonoridade incrível, é muito útil para utilizar com outros amplificadores pois 200w de potência é muita coisa e dá pra ligar uma infinidade de cabeçotes diferentes nele. Tem uma performance extremamente linear e responde muito aos ajustes nos botões do amplificador.

Por falar em ajustes, esse modelo é um dos amplificadores que toquei que possui a melhor resposta. Todos os controles no painel possuem uma atuação muito evidente e boa parte da mágica desses amplificadores está aí. Qualquer guitarra soa bem e pode ser timbrada nesse amplificador. Revelou o melhor de cada uma das minhas guitarras e também aceita muito bem todos os pedais que foram testados.

No meio da construção infelizmente soube da morte do criador dessa máquina, o que me deu tristeza e ao mesmo tempo um sentimento legal de mesmo se tratando de um clone nunca deixar a história morrer.

Em uma visão geral, fiquei encantado com o resultado pois além de um timbre incrível, o amplificador é extremamente silencioso.

Custou muito menos que um Two Rock e me deixou satisfeito. O meu amigo Giacomo que participou ativamente de toda a saga tem a mesma opinião e o resultado final foi o mesmo, um amplificador de alto nível.

Ele me ajudou também na gravação do vídeo de demonstração do amplificador.

Espero que gostem!

Ficha técnica:

Microphone Shure SM57

Recorder Tascam DR-44WL

Gibson Les Paul Standard 2005
Pickups:
Bridge – Seymour Duncan 59 Custom Hybrid
Neck – Custom made Duncan 59 / Duncan Jazz.
Ernie Ball Strings 0.09

Fender 1960 Custom Shop Stratocaster Fiesta Red NOS AA, (May 2022)
Pickups:
Custom Shop 60s with RWRP
Fender Strings 0.10

Fender 5E3 – Reforma

Para quem acompanha o blog faz muitos anos ou para quem já vasculhou por todas as páginas, vai encontrar um projeto de 2016 de um clone do Fender 5E3 que um colega fez para mim.

Pois bem, o amplificador esteve muitos anos parado e foi a vez de receber uma reforma completa, desta vez pelas minhas mãos.

A reforma foi profunda, aproveitando apenas o chassis, faceplate e o gabinete de madeira. Todos os restantes componentes foram substituídos.

Visão geral do amplificador antes de iniciar os trabalhos:

Quando construído, foi feito em um estilo totalmente ponto a ponto utilizando barras de terminais. Funciona e os componentes ficam distantes, o que facilita a dissipação de calor, mas cria um emaranhado de fios que não é muito interessante para sinal de áudio e acaba criando o ambiente ideal para ruídos.

O amplificador não era propriamente ruidoso, mas após a reforma ficou extremamente silencioso.

Não foram utilizados componentes de alta qualidade, infelizmente alguns eram usados e fazer um upgrade pontual não valia muito a pena, mas tanto o chassis como o gabinete são de qualidade e poderiam servir para um novo projeto.

Como a maior parte dos furos estava pronta e também o painel, decidi recriar o mesmo circuito, mas do zero pois é também um dos modelos de amplificadores que gostaria de ter na minha coleção particular, e assim como os outros que possuo, com peças de qualidade.

Hoje em dia muitas empresas vendem kits e placas ponto a ponto já furadas e prontas para serem instaladas.

Como o circuito é muito pequeno, achei muito interessante utilizar a versão de circuito impresso da Tube Town.

Na verdade esta placa é 90% ponto a ponto e o número de trilhas de cobre é mínimo. A vantagem é que reduz drasticamente o número de fios passando por baixo da placa, além disso essa placa é de fibra de vidro, extremamente resistente e também é possível substituir componentes por cima pois os furos são metalizados. No final o melhor dos dois mundos.

Os componentes selecionados foram capacitores polipropileno Orange Drop 715P instalados de maneira adequada após a verificação do outer foil.

Os resistores são de filme de carbono 1W da Xicon e os de potência da mesma marca, mas óxido metálico.

Os capacitores eletrolíticos são da marca alemã F+T 22uF 500v.

As válvulas de pré e de potência escolhidas são todas Electro Harmonix:

Decidi também trocar os transformadores, pois não sabia as especificações precisas dos anteriores e queria algo fiel ao projeto original. A escolha foi pelos In Mad Out, uma marca originalmente Italiana que faz ótimos transformadores na Europa.

Demais especificações das partes utilizadas:

Soquetes belton

Jacks Cliff originais

Potenciômetros Alpha 24mm

Capacitor silver mica e poliéster no controle de tone.

Chaves Carling

Luz de painel Fender

Para além do “problema” referido de componentes, o amplificador passou muito tempo guardado e sofreu com a umidade e mofo, o que comprometeu ainda mais os componentes.

As válvulas já estavam bastante gastas e as de pré com muita microfonia.

O processo de restauro envolveu desmontar o amplificador inteiro, ajustar furação, ser lixado e polido para remover corrosão e proporcionar uma construção extremamente limpa.

Após fixar a placa foi possível lentamente começar todas as conexões.

Detalhe para a utilização de cabo blindado na parte crítica do sinal para evitar ruídos:

Os fios escolhidos para o projeto são Silicone flexível 0,5 mm² para sinal e 0,75 mm² para os filamentos.

Com paciência e dedicação o resultado aparece. É importante sempre ter especial atenção com as soldas pois são fundamentais para o funcionamento do amplificador e também para a segurança de quem o utiliza.

No final o trabalho compensou e o resultado final foi totalmente diferente do original, com uma montagem limpa e tudo renovado.

Algo que sempre me perguntam é sobre as modificações, o fetiche de quase todo o guitarrista.

A cada dia que passa tento evitar as modificações pois a maioria delas são feitas em pedais e amplificadores com focos específicos, sem ter em conta o projeto como um todo.

Corrigem muitas coisas, mas muitas das vezes tiram toda a alma e a graça.

Sim, realizei pequenas modificações que pessoalmente considerei realmente úteis ou necessárias e aqui vai a lista para quem deseja fazer o mesmo:

Chave Standby. O amplificador original não tem. Na verdade antes da reforma essa “modificação” já estava presente, apenas coloquei novamente.

Jacks Cliff – Plástico injetado, são extremamente resistentes e como não possuem parte metálica em contato com o chassis não existe o risco de loops de terra e problemas de contato. Considero esse um upgrade para qualquer amplificador que utilize jacks de metal.

Capacitores de filtro 22uF substituindo os originais de 16uF. No geral deixa o amplificador mais silencioso e com graves mais firmes sem perder a resposta dinâmica típica desses amplificadores Tweed.

Resistor de bias 330 Ohm no lugar do original 250 Ohm que traz uma operação mais fria e segura para as válvulas. Muitas pessoas preferem o original, mas sinceramente não notei uma diferença de som relevante que justifique forçar tanto as válvulas.

Os dois primeiros “coupling caps” do pré tiveram os valores reduzidos de 100nF para 22nF para remover o excesso de graves, evitar a “blocking distortion” e também deixar o amplificador mais receptivo à pedais e captadores humbucker.

Uma nota especial sobre isso: É preciso ter em conta que na década de 50 os falantes não tinham o desempenho de graves que qualquer falante de baixa qualidade possui hoje, logo os circuitos eram ajustados no limite para explorar todo o grave possível que eles conseguiam entregar.

Ao utilizar um circuito assim com os falantes de hoje o resultado é um excesso de graves que faz com que fique realmente difícil timbrar o amplificador.

Empresas como a Weber ou Warehouse fazem réplicas dos falantes originais, mas são muito mais difíceis de encontrar e como este amplificador foi feito na versão cabeçote optei por deixá-lo o mais versátil possível para utilizar com falantes diferentes. Na versão combo penso ser um bom investimento ir para as réplicas.

Originalmente os dois estágios iniciais de pré compartilham do mesmo resistor de cátodo de 820 Ohm de 1/2w com um capacitor de 22uF.

Optei por separar os cátodos com resistores e capacitores independentes para reduzir a interação destes estágios. O resultado final foi mais silencioso e rico em harmônicos.

Os valores dos capacitores mantive 22uF, mas é necessário alterar os valores dos resistores para 1.5K cada. No final utilizei os mesmos Xicon Filme de carbono 1W que informei no início do post.

Adicionei dois resistores 470 Ohm de 2w para proteger as válvulas de potência contra corrente excessiva. Esta pequena modificação aumenta o tempo de vida das válvulas e também deixa a saturação delas mais agradável aos ouvidos.

Última e não menos importante, a adição de dois diodos de proteção na válvula retificadora que ajudam a aumentar o tempo de vida útil e também protegem todo o amplificador caso a válvula retificadora entre em curto, impedindo de mandar tensão AC para o circuito. Em caso de falha da válvula, o circuito receberá a mesma tensão DC que já recebe para funcionar, não compromentendo assim os demais componentes.

Todas essas modificações podem ser verificadas nas fotografias e caso exista alguma dúvida é só mandar um e-mail ou verificar o site Robrobinette onde a maioria dessas modificações estão disponíveis.

Foi um projeto que consumiu aproximadamente dois dias e o resultado sonoro foi impressionante.

Infelizmente no momento não tenho nenhum material de amostra, mas no futuro irei atualizar o post.

Octave Fuzz Clone

Diversão de final de semana voltar a montar pedais.

Ultimamente tenho montado vários pedais mas infelizmente sem muito tempo para documentar por aqui.

Como é a primeira vez que faço um Fuzz com octave decidir fazer um esforço e publicar.

O projeto escolhido trata-se de um clone do Roger Mayer Octavia, efeito utilizado por artistas como Jimi Hendrix e SRV.

O pedal original já não é fabricado, mas existem muitas empresas fazendo clones ou versões melhoradas com mais funções.

Este pedal em questão é projeto da PCB Mania que disponibiliza o kit completo e já possui uma melhoria, a opção de desativar o octave e ter apenas o fuzz disponível.

As duas opções são ótimas e gostei do som em todos os ajustes.

O circuito possui o clássico transformador 42TM022 posicionado na etapa de saída.

Estes kits disponíveis online trazem a placa, todos os componentes e ainda existe a opção de comprar já com a caixa furada e tudo.

Normalmente com a caixa furada fica um pouco mais caro mas se for muito complicado fazer os furos vale a pena.

Os projetos modernos de pedais (mesmo clones de esquemas antigos) possuem placas cada vez mais completas que incluem os potenciômetros soldados direto e são mais limpos e sem fios.

Detalhe para um pequeno pcb para a chave 3PDT para eliminar ainda mais a necessidade de fiação. O resultado final é um pedal extremamente limpo por dentro e super silencioso:

Para quem quer se aventurar nesse pedal, especial atenção ao posicionar e soldar os diodos de germânio pois são extremamente sensíveis ao calor e podem quebrar ao dobrar os terminais para soldar.

Recomendo sempre utilizar uma estação de solda com temperatura controlada para garantir soldas perfeitas na temperatura ideal que não vão comprometer a integridade dos componentes.

Hoje em dia nos pedais que faço para mim não me preocupo muito com serigrafias e pinturas, então o acabamento foi simples com dois knobs pretos. O único detalhe adicional foi o uso de um LED indicador moderno que passa por todas as cores em 30 segundos.

Esse efeito legal do LED e também uma amostra do pedal você encontra neste pequeno vídeo que gravei aqui para o blog:

Um abraço e até breve:)

Deluxe Reverb – Um amplificador de Butique

Tirando um pouco da poeira do blog, estes últimos meses foram de muito trabalho e este espaço tem ficado um pouco mais parado mas nunca abandonado.

O post de hoje é muito especial pois ele começou faz tempo, com o desejo de montar um amplificador ponto a ponto com componentes selecionados.

O projeto em si começou a tomar forma em Maio de 2020, quando lentamente comecei a estudar qual amplificador gostaria de montar e também iniciei a compra dos componentes.

Sim, existem muitos kits disponíveis e neste caso foi a parte vital para esse amplificador:

(basta clicar nas imagens para ver em alta resolução)

Adquiri o Kit normal do Deluxe Reverb da Tube Amp Doctor sem alto falante.

Normalmente aqui no blog sempre tento disponibilizar o máximo possível de dicas sobre projetos de eletrônica, e este post não é diferente, com a diferença de que a minha intenção não é trazer um passo a passo.

Um projeto deste tamanho, custo e complexidade envolve um longo contato com a eletrônica, bem como o domínio de técnicas de solda e manipulação de componentes eletrônicos.

Um passo a passo ficaria gigantesco e não iria solucionar todas as questões que aparecem, para isso quem tiver alguma dúvida específica pode enviar um e-mail para o blog (ver topo da página).

Antes de chegar no projeto propriamente dito, acho importante lembrar que antes de começar a construir é necessário ter as ferramentas para todas as etapas da construção.

Além da estação de solda (com temperatura controlada de preferência), pinças, alicates de corte e demais acessórios para a manipulação dos componentes, é necessário também organizar a bancada com instrumentos que vão ajudar na finalização e ajuste.

Um multímetro, básico não só para ajustes e medições, mas também para verificação de ligações e valores de componentes.

Outra ferramenta essencial para os primeiros testes é uma carga fictícia, para em um primeiro momento não ligar o amplificador direto no falante pois caso alguma coisa esteja errada pode danificá-lo, sem contar na praticidade de poder fazer todas as medições e anotações iniciais apenas com o chassis na bancada.

Basicamente montei uma carga fictícia com um resistor de 8 Ohm 100w, um cabo de alto falante e um jack P10.

É o tipo de ferramenta que só se faz uma vez e ajuda na construção e manutenção de outros amplificadores no futuro.

Um osciloscópio é bem-vindo, e no meu caso tenho acesso à uma oficina completa por isso não adquiri um especialmente para este projeto.

Uma bancada limpa e organizada é essencial pois lembrando, envolve altas tensões que podem ser letais e um local de trabalho bagunçado aumenta o risco de desastres.

Sim, pode ser montado no conforto da sua sala, desde que tome todos os cuidados.

Recomendo ter um medidor de Bias externo.

Existem muitas formas de medir e inclusive montar o medidor dentro do amplificador de forma permanente ou provisória para os primeiros ajustes.

No meu caso eu queria ter um acessório externo pois procurei ser fiel ao projeto e também preciso de um medidor que possa ser utilizado em outros amplificadores que me aparecem para montar, modificar ou reparar.

Para isso comprei um Kit que consiste em um soquete Octal, uma base de plástico igual à base da válvula e um resistor de 1 Ohm para realizar a leitura em mV.

O kit traz um resistor de 1% de precisão, o que é legal, mas decidi ir um pouco mais além e encomendei alguns resistores Vishay com 0.5% para maior precisão na medição.

Medidor montado, tudo pronto para o projeto.

Falando em Kit, eu poderia ter simplesmente montado um desses disponíveis mas tive a vontade de fazer diferente personalizar algumas partes.

Isso obviamente encareceu muito o projeto, a ponto de ser mais caro que um amplificador pronto na loja.

A diferença é que os amps novos dessa série produzidos pela fender possuem um som muito diferente que não lembra o amplificador original, além de não utilizarem componentes de grande qualidade.

Comprar um original e deixar ele soando realmente bem é sim um investimento alto e que para o meu caso não vale o esforço, então melhor começar do zero e fazer algo como se deseja.

Questão pessoal, quem já teve contato com um amplificador feito com componentes selecionados não se contenta em montar um kit simples, que embora tenha ótimos componentes pode ser amplamente melhorado.

Para isso tive de comprar peças de várias fontes diferentes e vou passar aqui os sites das empresas que adquiri partes específicas:

www.tube-town.de

www.tubeampdoctor.com

www.tedweber.com

www.mercurymagnetics.com

www.mouser.com

Como gosto muito dos amplificadores da Fender e gosto de tocar Blues, decidi construir a versão AB763 Deluxe Reverb com 22w de potência, um combo com 1×12.

Apesar de não “concordar” com algumas partes do kit e substituí-las, é a forma mais fácil de adquirir as peças em quantidade ideal, próprias para este projeto e sem ter de comprar ainda mais separado do que já foi.

O preço final também acaba por ser melhor pois comprar tudo separado fica ainda mais caro.

Não havia a necessidade, mas comprei o kit completo, o que me permitiu guardar muitos componentes e tenho praticamente o suficiente para montar mais um amplificador.

Neste caso já vem com várias peças de qualidade como:

Chassis

Gabinete de madeira com finger joints, tolex instalado assim como tecido ortofônico.

Válvulas selecionadas Tube Amp Doctor que dispensam comentários. Mesmo que não comprasse o kit deles, com certeza compraria o set pois são realmente sensacionais.

Chapa do painel frontal e traseiro com serigrafia.

Jacks Switchcraft

Switches, conectores, knobs

Placas de circuito ponto a ponto

Fios, todos os parafusos necessários, porcas, etc..

Potenciômetros, capacitores, resistores.

Soquetes

Tudo isso com a praticidade de receber cada componente em um saquinho, devidamente catalogado.

Todos os componentes listados são de qualidade como já falei, mas dei um passo um pouco maior e defini que queria algumas coisas diferentes:

Transformadores:

Os originais são de boa qualidade, feitos nos EUA e o som desses amps são incríveis com eles.

A questão é que preferi recorrer à marca que faz os melhores transformadores “fender-like” no mercado, a Mercury Magnetics.

Guardei os originais do Kit e comprei todos da série Tone Clone que possuem todo um trabalho de pesquisa e engenharia reversa para serem equivalentes aos originais. Estes transformadores são vendidos também para substituir nos amplificadores antigos.

Pensar no futuro também é uma coisa interessante, e como nunca sabemos o dia de amanhã e que maluquice vamos inventar, adquiri o transformador com o primário universal que contempla as seguintes tensões: 100v, 120v, 220v, 230v, 240v.

Além do transformador de potência ser “multivolt”, o transformador de saída também é versátil com saídas de 4, 8 e 16 Ohm.

Soquetes:

Fiz questão de comprar e utilizar soquetes Belton, guardando os cerâmicos de marca desconhecida que acompanham o kit. É o tipo de investimento que não altera muito o preço final, mas traz o benefício de ter algo que realmente dura uma vida.

Resistores:

De uma maneira geral utilizei os da TAD que são Carbon comp, mas por questão de gosto pessoal e estabilidade, decidi utilizar alguns diferentes na fonte (óxido metal).

Como referi anteriormente, a ideia era deixar fiel ao projeto original, o que foi feito, apenas os tipos de alguns componentes são diferentes do amplificador original por segurança.

Há quem não goste e queira utilizar tudo como na época.

É impossível replicar totalmente como da época, começando pelos capacitores eletrolíticos que eram fracos, com alta taxa de falha e uma construção bem rudimentar de papelão.

Existem algumas marcas recriando estes capacitores, mas os valores para esse projeto ainda não existem caso alguém queira uma cópia realmente 100% fiel.

Potenciômetros:

O kit traz 10 potenciômetros Alpha 24mm de boa qualidade, mas por gosto pessoal e também durabilidade e qualidade de condutividade, utilizei CTS em todas as posições.

Os capacitores são de polipropileno Orange Drop projeto da TAD e fabricados pela Sprague.

A vantagem desse material é a estabilidade, resistência à mudanças de temperatura e deterioração muito lenta comparada com os de polyester.

Antes mesmo de iniciar as soldas separei cada capacitor e levei ao osciloscópio para verificar o “outerfoil” e posicioná-los da melhor maneira no circuito para uma performance mais silenciosa.

Com tudo na mão, comecei por trabalhar no chassis.

Apesar de ser um kit com tudo pensado, alguns furos não tinham o tamanho certo e foram alargados, e outros em falta que tive que fazer.

As placas não são furadas e a pessoa que vai montar deve decidir como irá ser feita a instalação no chassis.

Comecei por colocar soquetes, jacks e transformadores.

Com tudo posicionado é hora de soldar tudo o que é possível sem as placas.

Feito isso, iniciei pela placa da fonte do bias que é a menor de todas e possui apenas três componentes.

Uma pequena melhoria muito comum neste circuito é utilizar um capacitor de 50uF 100v no lugar do original 25uF 50v que além de não filtrar tão bem opera muito perto do limite de tensão do componente.

Tanto na fonte de alimentação do bias como da alta tensão os valores foram respeitados, mas utilizei resistores 2w óxido de metal no lugar dos originais do projeto 1w carbon comp.

Isso garante maior estabilidade, longevidade dos componentes e também baixas temperaturas.

Outro detalhe que fiz diferente do que normalmente vai no projeto, foi utilizar resistores carbon film de 1w no lugar dos carbon comp 1/2w para a parte dos filamentos.

Fiz alguns testes com os originais do kit, mas a inconsistência de valores (85 ohm e 107 ohm) fez com que eles não fizessem o seu papel corretamente.

Com os novos resistores com valores idênticos o amplificador ficou extremamente silencioso e sem nenhum “hum”. Quem ainda assim quiser usar os originais recomendo comprar vários e medir até encontrar dois exatamente iguais para funcionar bem.

Após finalizar a placa de alta tensão foi a hora de passar os fios da “dog house” (parte onde ficam os capacitores) para dentro do chassis onde serão ligados na placa do circuito propriamente dita.

Com essa parte finalizada comecei a soldar os componentes da placa principal.

É preciso especial atenção pois existem conexões feitas por baixo da placa e caso alguma coisa esteja errada, é preciso desmontar o amplificador todo para corrigir.

Antes de começar a soldar estudei o esquema e o layout durante meses até entender todas as conexões.

Normalmente inicia-se pelos componentes menores até os maiores.

Neste caso fiz diferente, pois todos eles se encontram nos pontos e fica um pouco difícil adicionar componentes depois, então fui do pré até o power gradativamente instalando os componentes.

Depois da placa com todos os componentes finalizada, foi a vez de instalar no chassis e iniciar a ligação dos potenciômetros e por último as válvulas.

Note que esse projeto possui fios por cima da placa e estas conexões são muito importantes no circuito de pré. Devem ser bem feitas e soldadas para evitar ruídos.

Por último foi passada a fiação dos filamentos e a parte de soldas terminou.

Finalizadas as ligações foi o momento de instalar as válvulas e fazer primeiro power up.

Seguindo o projeto original da Fender, assim que liguei ainda em stand by comecei a conferir todas as tensões e como estavam perfeitas fiz o primeiro teste de som. 

Inicialmente ajustei a tensão negativa mais alta para um bias frio na primeira vez que ligava o amplificador, o que deu -43.3v e 18mA em cada válvula.

Assim como no esquema original, medi 415v nas válvulas, o que dá um ajuste ideal de 20.2mA.

No meu caso fiz um ajuste fino e consegui estabilizar em 20.4mA por válvula o que está perfeitamente dentro dos limites.

Após o primeiro ajuste de Bias fiz testes no amplificador por cerca de duas horas para ter a certeza de que tudo estava estável.

Confirmando tudo funcionando bem, lembro que este é um combo e precisa lidar com vibrações.

O verniz nos parafusos garante que não terá ruídos de vibração e também não vão soltar com o tempo, o que além de ruidoso pode ser perigoso.

O gabinete não vem totalmente finalizado e é necessário fazer alguns furos para instalar o chassis, o tanque na parte inferior e também a folha de alumínio que “tampa/blinda” o chassis e garante uma operação silenciosa.

Hoje em dia não é preciso sofrer com cola pois estas folhas já possuem um lado com adesivo e a instalação é bem simples.

O alto falante escolhido para este amplificador foi o Weber 12F150, Light Dope já com o Cone-brake feito. Este é um dos melhores alto falantes no mercado para amplificador tipo Blackface e que substitui com grande elegância os originais Oxford 12K5.

É claro que a escolha é uma decisão muito pessoal e existem ótimos modelos da Jensen, Celestion etc…

Neste caso consegui com uma loja especializada que já faz o serviço de cone-brake, e na primeira vez que liguei o amplificador tudo soava macio com todas as frequências respondendo bem.

Talvez a única coisa realmente moderna que fiz foi utilizar um cabo diferente para o alto falante.

Normalmente nestes amplificadores usa-se o mesmo cabo rídigo revestido com tecido, mas no meu caso preferi algo tecnológico e comprei um cabo para alta fidelidade cobre puro livre de oxigênio.

Nunca é demais investir em algo muito resistente em uma parte que se falhar pode queimar o transformador de saída.

Para quem tiver interesse, é da marca KabelDirekt fabricado na Alemanha.

Algumas considerações e dicas:

Se pretende construir um amplificador, pequeno ou grande, não faça com pressa. Fazer o amplificador tem de ser parte da diversão e a ansiedade não pode ser misturada no processo.

Se for trabalhar com fios rígidos com revestimento de tecido como nesse projeto, não use alicates ou outro tipo de ferramentas na hora de manipulá-los, faça isso com as mãos com cuidado e devagar para dar a forma que deseja.

Use equipamentos de qualidade, como ferro de soldar e também o estanho.

Seja organizado e faça um trabalho limpo dentro do amplificador. Circuitos valvulados são muito sensíveis e facilmente apresentam problemas de ruídos e oscilações.

Seja qual for o circuito, ele possui módulos (fonte, pré, power) e isso deve ser lembrado durante a construção.

Se você constrói por módulos e dá a devida atenção a cada um, no final tudo faz sentido e se conecta perfeitamente.

O fato de os componentes serem soldados quase sempre na parte final do terminal não significa que não recebam muito calor na hora da solda.

Utilize pinças para dissipar o calor em cada solda e garantir a integridade de cada componente.

Assim como os fios, a manipulação dos componentes também deve ser feita com as mãos, utilizando os alicates apenas para correção com cuidado. 

Dentro do amplificador acumula muito calor. Não utilize peças que não resistam ao calor ou algum tipo de produto que pode derreter.

Se for construir um combo, lembre que tudo vai vibrar.

Só apertar bem os parafusos pode não ser suficiente. Certifique-se de que peças e conexões rígidas não se tocam, evitando assim “buzz” quando se toca as notas graves.

Nunca esqueça das altas tensões. Com o amplificador ligado, jamais coloque a mão seja onde for, com ele desligado, sempre confira se os capacitores da fonte estão descarregados antes de qualquer manutenção.

Existe uma primeira vez para tudo, e foi a primeira vez que montei um combo. 

Algumas empresas afirmam que este kit pode ser montado em 16hs, o que discordo. Talvez quem monte todos os dias consiga, mas em um cálculo bem por alto penso que fiz em 60hs. 

Levei vários dias pois fiz sem pressa e não queria correr riscos desnecessários.

A falta de tempo ainda não permitiu fazer um vídeo com qualidade, mas deixo aqui uma amostra gravada com o celular do desempenho do amplificador que ficou exatamente com o som que eu desejava.

Instagram

Já faz um bom tempo que o blog tem uma conta no Instagram e esqueci de divulgar. Com a correria dos últimos meses ficou impossível documentar e postar aqui todos os projetos que estive envolvido. Por lá já tem uma amostra do próximo post que será grande sobre um projeto muito especial. Segue lá:)

https://www.instagram.com/guitarrasgambiarras

Pyramid Strings

O post de hoje é especial pois trata-se de uma realização musical e também uma agradável viagem no tempo.

As cordas Pyramid vão além do assunto instrumento musical, e contam boa parte da história da música, de um país e de uma região.

Tudo começou em 1850 na cidade de Schönbach onde hoje fica a República Checa. O jovem empresário Anton Osmanek iniciou a história desta fabricante de cordas e fez desta em pouco tempo uma das empresas mais importantes da indústria de instrumentos musicais do antigo Império Habsburgo.

A empresa superou grandes crises, como duas guerras mundiais, mortes familiares e o deslocamento de Schönbach em 1946.

Por 165 anos, as cordas têm sido o negócio e a paixão da família por trás da Pyramid.

A empresa está agora na sexta geração e é administrada por Max Junger no centro de fabricação de instrumentos musicais de Bubenreuth (Alemanha).

Em um passeio de carro pela região pude conhecer a localização da fábrica em uma tranquila rua residencial.

Foi através do próprio Max Junger que realizei o contato que permitiu  a visita do qual agradeço a atenção e o carinho ainda mais nestes tempos difíceis que vivemos.

Quando falamos de cordas em geral lembramos sempre das empresas americanas, mas a verdade é que a Pyramid tem um legado que vai muito além de apenas fabricar cordas.

A marca possui a maior variedade de cordas do mundo, e só para guitarra elétrica possui 125 modelos diferentes.

Algo que impressionou foi a quantidade de instrumentos tradicionais nas paredes da fábrica, que obviamente possuem cordas em produção, disponíveis para os proprietários destas raridades.


Os modelos de cordas mais tradicionais são feitos com os mesmos materiais e técnicas do passado, com um trabalho manual difícil de se ver nos dias de hoje.

Em uma época onde toda a atenção das pessoas está voltando novamente para o “handmade”, nesta empresa o conceito nunca morreu e os produtos continuam sendo feitos da mesma maneira, o que garante um produto de alta qualidade e muita estabilidade.

A maioria dos produtos feitos em grande quantidade por métodos industrializados possuem muita inconsistência entre os lotes, e o controle de qualidade é praticamente inexistente.

Desde que comecei a utilizar estas cordas acabei por substituir aos poucos todas as cordas dos meus instrumentos pois a resposta, durabilidade e consistência são superiores às das marcas que usava anteriormente.

As máquinas contam a história da marca e da própria música, e são as mesmas que fazem as cordas da Pyramid há décadas.

A grande diferença que senti quando utilizei as cordas pela primeira vez nas minhas guitarras foi na robustez do metal. Nas minhas guitarras stratocaster foi necessário ajustar as molas pois estas cordas são mais fortes do que as de outras marcas.

Este foi um fator importante na visita e na conversa, pois pude compreender que esta diferença está relacionada com materiais de qualidade superior.

O mais interessante da visita foi ter a oportunidade de conversar com o atual responsável e entender que a visão de respeito pela história e preservação da região são os fatores mais relevantes.

Sem história não existe futuro pois é o nosso passado que motiva o pensamento em um mundo melhor, na continuidade de um sonho que começou muito antes de nós.

A maioria das fábricas modernas possuem uma linha de produção automatizada e com sorte você encontra algum espaço como museu.

A experiência se torna única quando a fábrica conta a sua história e continua construindo o seu futuro como uma coisa só.


Se você não conhecia ainda esta marca de cordas, faço o convite para dar uma olhada no catálogo online através do site: http://pyramid-saiten.de/

Além dos modelos tradicionais, existem modelos especiais para som mais pesado e também para quem quer um timbre mais clássico como o Jimi Hendrix Inspired Set.

No final do post deixo uma galeria com as restantes fotos da visita.

Aproveito também para demonstrar em um pequeno vídeo o poder destas cordas em uma das minhas guitarras e também agradecer à empresa pela simpatia e pela bela camiseta que me deram de presente.

O modelo que utilizo é o Pyramid Performance Pure Nickel D503 – 0.10.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Musikhaus Thomann – Alemanha

Faz bastante tempo que tenho vontade de documentar e publicar esta loja por aqui. Após uma breve visita nestes tempos estranhos, finalmente consegui reunir as fotografias que desejava e aqui vão:

A Musikhaus Thomann é uma das maiores lojas de instrumentos musicais do mundo e ao contrário de todas as outras não fica localizada no meio do centro e da confusão das grandes cidades.

No coração do estado da Bavaria, onde se produz das melhores cervejas do mundo, muito mais do que uma loja física, é um gigante centro logístico e distribuição de equipamentos musicais e de áudio profissional.

A empresa ocupa grande parte da cidade de Treppendorf e o apelido local da cidade virou “Thomannsdorf” pela dimensão que a empresa ocupa da cidade.

Logo na chegada é possível ver um dos maiores e mais recentes armazéns construídos para a distribuição de todo o equipamento vendido através do site.

Por falar em site, a loja acaba por funcionar como um showroom do site que é o verdadeiro carro-chefe da empresa. A loja apesar de imensa não possui metade dos produtos que podem ser adquiridos através do portal.

Em tempos de constante estado de emergência, a loja também tomou medidas de segurança e com muita criatividade oferece uma visita segura e divertida para os amantes da música:


Como o foco deste pequeno blog são guitarras, vamos começar por falar delas. A principal sala da loja é sobre guitarras e para quem ama esse instrumento é o verdadeiro paraíso.

O piso inferior é inteiro para guitarras elétricas e baixos.

No post passado falei dos pedais Harley Benton, que basicamente é uma marca da Thomann e inclui pedais, amplificadores, guitarras, baixos e violões. São instrumentos de ótima qualidade e com um preço super justo.

Uma das coisas que mais gostei é a variedade e opções de instrumentos inovadores como guitarras de acrílico ou instrumentos portáteis para viagem.

 

Para quem tem grande disponibilidade de orçamento, instrumentos custom shop ou edição especial também podem ser encontrados.

A sala dos pedais é um convite para passar o dia sem ver a hora passar. Nela é possível não só testar todos os pedais como montar um pedalboard completo para usar com qualquer guitarra ou amplificador da loja.

Subindo as escadas fica o andar dos violões.

Além das marcas tradicionais como Fender, Taylor, Gibson, Takamine, esta parte da loja tem uma variedade grande de ótimos instrumentos acústicos Harley Benton:

Depois de passar um bom momento entre violões e guitarras, fui documentar os outros departamentos da loja. começando pelos instrumentos de sopro.

 

Além de instrumentos, é possível encontrar um estúdio de gravação montado dentro da loja e até mesmo uma sala de espetáculo para demonstrar os produtos em condições reais de uso.

Esta loja é a maior e mais completa que já fui e também conta com um complexo centro de reparações que pode ser visto aqui.

Recomendo a visita, que deve ser feita em mais de um dia, com moderação pois a vontade de comprar tudo é grande. =D

Deixo aqui uma foto do belo restaurante que fica separado da loja e oferece vários pratos típicos da região:

Infelizmente um post não é suficiente, e também não cabem todas as fotografias que tirei.

Por isso disponibilizo aqui uma galeria com mais fotos para apreciação: