Fender 5E3 – Reforma

Para quem acompanha o blog faz muitos anos ou para quem já vasculhou por todas as páginas, vai encontrar um projeto de 2016 de um clone do Fender 5E3 que um colega fez para mim.

Pois bem, o amplificador esteve muitos anos parado e foi a vez de receber uma reforma completa, desta vez pelas minhas mãos.

A reforma foi profunda, aproveitando apenas o chassis, faceplate e o gabinete de madeira. Todos os restantes componentes foram substituídos.

Visão geral do amplificador antes de iniciar os trabalhos:

Quando construído, foi feito em um estilo totalmente ponto a ponto utilizando barras de terminais. Funciona e os componentes ficam distantes, o que facilita a dissipação de calor, mas cria um emaranhado de fios que não é muito interessante para sinal de áudio e acaba criando o ambiente ideal para ruídos.

O amplificador não era propriamente ruidoso, mas após a reforma ficou extremamente silencioso.

Não foram utilizados componentes de alta qualidade, infelizmente alguns eram usados e fazer um upgrade pontual não valia muito a pena, mas tanto o chassis como o gabinete são de qualidade e poderiam servir para um novo projeto.

Como a maior parte dos furos estava pronta e também o painel, decidi recriar o mesmo circuito, mas do zero pois é também um dos modelos de amplificadores que gostaria de ter na minha coleção particular, e assim como os outros que possuo, com peças de qualidade.

Hoje em dia muitas empresas vendem kits e placas ponto a ponto já furadas e prontas para serem instaladas.

Como o circuito é muito pequeno, achei muito interessante utilizar a versão de circuito impresso da Tube Town.

Na verdade esta placa é 90% ponto a ponto e o número de trilhas de cobre é mínimo. A vantagem é que reduz drasticamente o número de fios passando por baixo da placa, além disso essa placa é de fibra de vidro, extremamente resistente e também é possível substituir componentes por cima pois os furos são metalizados. No final o melhor dos dois mundos.

Os componentes selecionados foram capacitores polipropileno Orange Drop 715P instalados de maneira adequada após a verificação do outer foil.

Os resistores são de filme de carbono 1W da Xicon e os de potência da mesma marca, mas óxido metálico.

Os capacitores eletrolíticos são da marca alemã F+T 22uF 500v.

As válvulas de pré e de potência escolhidas são todas Electro Harmonix:

Decidi também trocar os transformadores, pois não sabia as especificações precisas dos anteriores e queria algo fiel ao projeto original. A escolha foi pelos In Mad Out, uma marca originalmente Italiana que faz ótimos transformadores na Europa.

Demais especificações das partes utilizadas:

Soquetes belton

Jacks Cliff originais

Potenciômetros Alpha 24mm

Capacitor silver mica e poliéster no controle de tone.

Chaves Carling

Luz de painel Fender

Para além do “problema” referido de componentes, o amplificador passou muito tempo guardado e sofreu com a umidade e mofo, o que comprometeu ainda mais os componentes.

As válvulas já estavam bastante gastas e as de pré com muita microfonia.

O processo de restauro envolveu desmontar o amplificador inteiro, ajustar furação, ser lixado e polido para remover corrosão e proporcionar uma construção extremamente limpa.

Após fixar a placa foi possível lentamente começar todas as conexões.

Detalhe para a utilização de cabo blindado na parte crítica do sinal para evitar ruídos:

Os fios escolhidos para o projeto são Silicone flexível 0,5 mm² para sinal e 0,75 mm² para os filamentos.

Com paciência e dedicação o resultado aparece. É importante sempre ter especial atenção com as soldas pois são fundamentais para o funcionamento do amplificador e também para a segurança de quem o utiliza.

No final o trabalho compensou e o resultado final foi totalmente diferente do original, com uma montagem limpa e tudo renovado.

Algo que sempre me perguntam é sobre as modificações, o fetiche de quase todo o guitarrista.

A cada dia que passa tento evitar as modificações pois a maioria delas são feitas em pedais e amplificadores com focos específicos, sem ter em conta o projeto como um todo.

Corrigem muitas coisas, mas muitas das vezes tiram toda a alma e a graça.

Sim, realizei pequenas modificações que pessoalmente considerei realmente úteis ou necessárias e aqui vai a lista para quem deseja fazer o mesmo:

Chave Standby. O amplificador original não tem. Na verdade antes da reforma essa “modificação” já estava presente, apenas coloquei novamente.

Jacks Cliff – Plástico injetado, são extremamente resistentes e como não possuem parte metálica em contato com o chassis não existe o risco de loops de terra e problemas de contato. Considero esse um upgrade para qualquer amplificador que utilize jacks de metal.

Capacitores de filtro 22uF substituindo os originais de 16uF. No geral deixa o amplificador mais silencioso e com graves mais firmes sem perder a resposta dinâmica típica desses amplificadores Tweed.

Resistor de bias 330 Ohm no lugar do original 250 Ohm que traz uma operação mais fria e segura para as válvulas. Muitas pessoas preferem o original, mas sinceramente não notei uma diferença de som relevante que justifique forçar tanto as válvulas.

Os dois primeiros “coupling caps” do pré tiveram os valores reduzidos de 100nF para 22nF para remover o excesso de graves, evitar a “blocking distortion” e também deixar o amplificador mais receptivo à pedais e captadores humbucker.

Uma nota especial sobre isso: É preciso ter em conta que na década de 50 os falantes não tinham o desempenho de graves que qualquer falante de baixa qualidade possui hoje, logo os circuitos eram ajustados no limite para explorar todo o grave possível que eles conseguiam entregar.

Ao utilizar um circuito assim com os falantes de hoje o resultado é um excesso de graves que faz com que fique realmente difícil timbrar o amplificador.

Empresas como a Weber ou Warehouse fazem réplicas dos falantes originais, mas são muito mais difíceis de encontrar e como este amplificador foi feito na versão cabeçote optei por deixá-lo o mais versátil possível para utilizar com falantes diferentes. Na versão combo penso ser um bom investimento ir para as réplicas.

Originalmente os dois estágios iniciais de pré compartilham do mesmo resistor de cátodo de 820 Ohm de 1/2w com um capacitor de 22uF.

Optei por separar os cátodos com resistores e capacitores independentes para reduzir a interação destes estágios. O resultado final foi mais silencioso e rico em harmônicos.

Os valores dos capacitores mantive 22uF, mas é necessário alterar os valores dos resistores para 1.5K cada. No final utilizei os mesmos Xicon Filme de carbono 1W que informei no início do post.

Adicionei dois resistores 470 Ohm de 2w para proteger as válvulas de potência contra corrente excessiva. Esta pequena modificação aumenta o tempo de vida das válvulas e também deixa a saturação delas mais agradável aos ouvidos.

Última e não menos importante, a adição de dois diodos de proteção na válvula retificadora que ajudam a aumentar o tempo de vida útil e também protegem todo o amplificador caso a válvula retificadora entre em curto, impedindo de mandar tensão AC para o circuito. Em caso de falha da válvula, o circuito receberá a mesma tensão DC que já recebe para funcionar, não compromentendo assim os demais componentes.

Todas essas modificações podem ser verificadas nas fotografias e caso exista alguma dúvida é só mandar um e-mail ou verificar o site Robrobinette onde a maioria dessas modificações estão disponíveis.

Foi um projeto que consumiu aproximadamente dois dias e o resultado sonoro foi impressionante.

Infelizmente no momento não tenho nenhum material de amostra, mas no futuro irei atualizar o post.