
Voltei! Faz tempo que tenho este pedal mas a preguiça nunca me motivou a falar dele. Hoje respirei fundo, carreguei a barrinha de coragem e trouxe ele aqui para o blog. Quem vive no Brasil e é músico certamente conhece a marca de amplificadores e acessórios Meteoro. Uma marca que começou com os amplificadores mais simples e atualmente faz valvulados para todos os gostos. A marca sempre andou muito próxima da onda marshall e quase todos os seus produtos são inspirados em modelos internacionais. Eu diria que são remodelados para melhor atender o público nacional. Uma coisa que todo brasileiro adora é precinho camarada, e realmente a marca apostou forte nessa tendência e produz equipamentos para todos os gostos e bolsos. Descobri o pedal um dia em uma loja de música e vi que era um irmão menor do mais antigo Doctor Drive. Perguntei o preço e resolvi testar pois estava muito baratinho para um pedal valvulado. 300 reais achei bem em conta. Testei, gostei, levei. O pedal não passou a fazer parte do meu set em shows, até tentei, mas depois desisti. Para o que eu toco e as experiências que tive, preferi deixar em casa para uso em gravações e ensaios. Para shows só em casos excepcionais.
Vamos falar do pedal:

De cara podemos ver que é robusto e aguenta todas as maldades que a turma adora fazer com os pedais. A caixa é bonita, bem pintada. O aspecto do pedal é bruto mesmo, mas para o preço o acabamento está impecável e a serigrafia também muito bem feita. Nada a apontar. Todos os controles de maneira geral respondem bem ao toque e a equalização foi muito bem conseguida. A única coisa que não gostei muito é que a equalização não bate igual para os dois modos do pedal. Com overdrive é necessário abrir um pouco os agudos pois o som é abafado, e quando chaveia para distorção fica ardido demais. Mas é possível conseguir um ponto de equilíbrio e também utilizar o tone da guitarra, coisa que muitas vezes esquecemos que está ali por algum motivo no instrumento.
Falando do funcionamento: O pedal tem dois leds bi-color no painel. O led da esquerda sinaliza o bypass e o efeito ligado (verde e azul), e o da direita sinaliza a função drive I e drive II (verde e vermelho). Alguns guitarristas quando conversam comigo perguntam: Quando o botãozinho é de metal o pedal é True Bypass, não é? Não… Antes fosse. A maioria dos pedais só usam estas chaves pois aguentam serem pisadas. Este pedal possui bypass eletrônico com buffers e é bom que fique claro que não é true bypass. As chaves são das mais baratas, mas funcionam bem. Não ser true bypass não é bom nem mal, depende do uso. Quem tiver dúvidas pode dar uma lida no post sobre buffers que fiz sobre o projeto do controlador.
Hoje em dia existe uma propaganda exagerada sobre tudo aquilo que tem válvulas. Ficou aquele conceito que o que é bom é valvulado e o resto é resto. Não é bem assim. Não compre este nem nenhum outro pedal valvulado esperando ter o som de um cabeçote all tube. O som puramente valvulado envolve uma série de coisas entre elas transformador de saída, casamento do circuito de pré com o de potência, entre outras coisas. O amplificador valvulado é um bloco e o circuito é pensado para ele ser uma coisa só. Um pré valvulado tem a sua graça, mas não é algo completo. Falo isso para que fique claro algumas coisas:
O pedal em questão é valvulado? Sim, é. Ele tem uma 6bq7 de pré que completa o circuito. Quando digo que completa, é que dá uma cor final ao som, um rasgado e calor típicos das válvulas. Mas grande parte da distorção é feita com integrados e inclui dois leds de clipping para ajudar a rasgar:

O som é quente, tem um rasgado gostoso… Como o circuito foi feito para um ganho elevado, no drive leve ele tem um som muito crunch carregado de médios, que não permite umas levadas mais bluesy. Mas mesmo assim, com jeitinho você tira um som muito legal.
Na foto podemos ver o transformador ali no canto. É ele que converte os 12AC em alta tensão para a válvula funcionar. Existe também a discussão sobre pedais valvulados que utilizam tensões baixas. Realmente o som embola muito e mais vale um pedal todo transistorizado. No caso do Meteoro o som ficou legal, bem quente e sem embolar. Aproveitando a foto, vemos que a placa é feita de fenolite, o que eu não gosto muito, mas está muito bem fixada e protegida pela caixa que como falei antes aguenta muita pancada. Só achei meio estranho o suporte da válvula que ficou ali pendurado por um sistema de encaixe que não acho muito seguro. A fábrica coloca um led vermelho por cima da válvula para brilhar e dar ênfase ao brilho da mesma.

Espero que não tenham feito isso para os leigos pensarem que o brilho todo vem da válvula. Tirei o led vermelho do meu e coloquei um azul que ressalta bem mais os filamentos da válvula que são de cor laranja, e não vermelha.
A única pisada de bola feia que encontei no pedal foi na entrada de alimentação. Originalmente o pedal vem com um conector de fonte metálico:
Como a entrada é em AC e o pedal funciona em DC, isolaram o encaixe com duas borrachinhas. Primeiro que isso é um perigo… As borrachas com o tempo secam e caem, sem contar que o conector não fica com um bom aperto no painel e toda hora fica frouxo. Se a fase do AC tocar na caixa pode queimar o transformador, o pedal e tudo fritar na hora. O furo da caixa também é grande demais e o conector fica sambando nele. No mesmo dia em que comprei já tirei e coloquei um de plástico que resolveu de vez o problema:
Das duas uma…. Ou colocavam um conector de plástico de fábrica, ou então já faziam a entrada DC com a retificação dentro da caixa do transformador. Foi uma economia sem sentido, como trocar 6 por meia dúzia.
Uma coisa que me chamou a atenção foi o cuidado com o aterramento:
Circuitos com válvulas são muito sensíveis, e se o aterramento não for bem feito os ruídos e apitos tomam conta. A caixa foi raspada para fazer o aterramendo do pedal e também no aperto dos potenciômetros para ficar tudo devidamente blindado. Gostei muito do cuidado, ponto positivo!
Os potenciômetros ficam soldados em uma placa de fibra de vidro (aí é bonito) com terminais que encaixam na placa central do pedal. É uma solução robusta, que evita fios, mas ao abrir e principalmente ao fechar o pedal é preciso ter muito cuidado e se certificar que tudo encaixou perfeitamente:
Conclusão: É muito mais do que eu poderia esperar por apenas 300 reais. O pedal é bem completo, tem um timbre muito bacana e um calor e punch singular. Não é um pedal dos mais caros e apetrechados, mas pode ser melhorado e ter peças vitais substituídas. Pedal nacional, bem conseguido, melhor que muita coisa gringa mais cara e com som de abelha, ótimo custo/benefício e recomendo para todos que curtem do blues ao rock pesado!
Samples: