Neste post começo uma série de três publicações sobre a aquisição de equipamentos. Novos ou usados? É a pergunta que muitas vezes me fazem, e que eu também em alguns momentos balanço na hora de comprar algo para o meu set. Em conversa com amigos e leitores do blog, decidi colocar aqui algumas observações que considero relevantes. Longe de ser uma verdade única, espero que ajude quem normalmente não troca de equipamento ou está naquela dúvida cruel do que fazer. E começando é claro pelo objeto de maior desejo de todos, as guitarras!
Temos um mercado de usados muito forte em nosso país, e pesquisando bem aparecem oportunidades incríveis de negócio mas muitas vezes acabamos optando por algo novo e mais caro, mas também com opções mais razoáveis de pagamento.
Infelizmente vivemos um momento delicado da economia onde os equipamentos profissionais importados atingem valores altíssimos e o sonho de ter uma guitarra “top” zero km fica cada vez mais distante. Em uma rápida opinião, vejo que apelar para o mercado de usados é a melhor solução. Apesar de dificultar a forma de pagamento, você pode dar sorte de encontrar alguém também à procura de algo que você tenha como moeda de troca.
Quem não acompanha o blog pode encontrar na busca “Golden Stratocaster” e verá que com muita pesquisa, boa vontade e algum investimento você pode ter uma guitarra excelente com um preço muito amigável. Para citar, esta guitarra é a minha principal companheira hoje em shows e gravações.
Elaborei aqui uma lista rápida de prós e contras que considero muito importantes na compra de um instrumento novo ou usado:
Novo
Prós:
1 – Você será o primeiro dono. Sabe de cara que estará comprando um produto com uma garantia mínima de 6 meses que as lojas oferecem. Tem os seus direitos resguardados.
2 – Instrumento sem riscos e detalhes no acabamento. Se tiver e você ainda assim quiser o instrumento, não esqueça de negociar o valor pois não é justo comprar algo novo já com marcas.
3 – Instrumento sem nenhum tipo de desgaste. Seja ele nos trastes, eletrônica (chave e potenciômetros), no nut ou no cromado das peças de metal.
4 – Revenda. Embora seja difícil revender no preço que se pagou, por ser um instrumento de único dono e bem cuidado é “pão quentinho” no mercado, vende fácil.
5 – Procedência. Você sai da loja com um documento, uma nota fiscal. É seu e você sabe de onde veio.
Contras:
1 – Valor. Sem dúvidas o valor pedido em um instrumento importado novo nas lojas é de se fazer pensar duas vezes. Não vou entrar no mérito da questão dos preços pois sabemos que a vida do empresário não é mole no Brasil. Mas sim, é caro e muitas vezes você vê o mesmo instrumento na internet, com uma semana de uso, algumas vezes quase pela metade do valor da loja. Por isso pesquisar exaustivamente é a melhor orientação sempre.
2 – Um instrumento novo é um “kinder-ovo”, uma surpresa. Você não consegue precisar a data em que foi fabricado, quanto tempo ficou na loja até ser vendido e o tipo de armazenamento que foi feito.
3 – O braço é o ponto de fragilidade de um instrumento de cordas. Em uma guitarra nova você não consegue prever o comportamento que ele vai ter. Embora o empeno seja sempre “controlável” com um bom ajuste do tensor, no caso de torção da madeira o problema muda de nível e só um bom Luthier poderá resolver. É um serviço caro e em alguns casos um pouco demorado pois o profissional depende tão somente da resposta da madeira para entregar o instrumento ao músico.
4 – Upgrades. Além de pagar caro em uma guitarra nova, a maioria precisa de upgrades. Seja uma correção na instalação dos trastes ou até mesmo a troca de todos os captadores. E sim, isso vale até para as guitarras mais caras. Por mais cara que seja, nem sempre recebe as peças mais adequadas, ou as que atendem totalmente o som que você procura. Além disso tudo sempre tem um gastinho a mais com acessórios como hard case, pois quem quer o seu instrumento novinho em folha jogado pelos cantos?
5 – Da loja para a revisão. Nunca peguei um instrumento novo na loja pronto para os palcos. É da loja para a manutenção, aí sim você vai conhecer de verdade o instrumento que acabou de comprar.
Usado
Prós:
1 – Valor. Sempre muito mais em conta que qualquer instrumento novo. É o grande motivador da compra de um instrumento usado.
2 – Instrumento com madeiras já estabilizadas. Um instrumento antigo já passou pela fase de adaptação da madeira. Não está livre de problemas pois tudo depende da forma como é cuidado, mas já não há tanta instabilidade, e sim mais previsibilidade.
3 – O braço já recebeu várias trocas de cordas e ajustes de tensor. Se passou por um tapa completo por um Luthier melhor ainda. Segurança para quem for tocar.
4 – Normalmente guitarras usadas já passaram por algum tipo de melhoria, e muitas vezes mesmo com estes “upgrades” a guitarra ainda fica muito mais barata que a nova na loja. Poupa o esforço de importar peças e gastar para mandar instalar tudo e regular o instrumento do zero. Além das melhorias, as guitarras usadas sempre acompanham um bag ou case. Em alguns casos o vendedor opta por vender separadamente, mas não é tão frequente. Conversando bem você pega o pacote “alegria” completo.
5 – A maioria dos instrumentos usados de boa qualidade disponíveis para a venda os donos têm o cuidado de mandar para uma revisão completa e entregam a guitarra totalmente funcional para o seu novo proprietário. É uma mão na roda para você sair tocando.
Contras:
1 – Falta de garantia. Instrumentos usados não possuem nenhum tipo de garantia. Se comprados em loja, você ainda tem algo, mas no mercado informal sabe que se da noite para o dia tiver algum problema, a bola está com você. Não existe nenhum direito do consumidor para reclamar.
2 – Um instrumento usado sempre tem algum detalhe de uso. Alguns um pouco sérios quando batem em algum objeto duro. A pintura não só lasca como afunda a madeira. Se é o tipo de coisa que não te incomoda e o visual das guitarras surradas te agrada, pule este tópico.
3 – Desgaste. Aqui peço uma especial atenção. Acho que de toda a matéria esse tópico é o mais relevante pois senti na pele isso. MUITO cuidado ao adquirir um instrumento usado pois existem desgastes que podem te custar muito caro. Sim, estou falando dos trastes. Os trastes costumam durar muito, mas tudo tem a sua vida útil e chega o momento em que eles não aguentam mais ser retificados e precisam ser trocados. É nessa hora que você que vai comprar um instrumento usado precisa ter o seguinte na balança:
O braço tem escala clara ou escala escura?
Se o braço for em escala escura, tudo certo. Você terá um gasto relevante com a troca de trastes, mas nenhum problema futuro com isso.
Agora se você pondera comprar um instrumento importado usado com escala clara redobre a atenção com o estado dos trastes.
Escala clara normalmente recebe um acabamento em verniz. Toda a troca de trastes bem feita requer retificar toda a escala do instrumento para um alinhamento perfeito dos trastes depois de instalados. É aí que mora o problema. Nem sempre se consegue o mesmo pigmento do verniz, e uma troca de trastes em escala clara quase sempre fica visível que foi feita. É o tipo de serviço que não dá para fazer com qualquer um. Sai caro, e por mais bem feito que seja vai comprometer seriamente o preço de revenda do seu instrumento se um dia for desapegar dele. Por isso pense muito bem, e avalie a real condição dos trastes quando for comprar. Tive uma guitarra que precisava de troca de trastes, mas a dor de cabeça, gasto e a desvalorização do instrumento eram tão grandes que preferi vender como estava e decidi então montar uma guitarra do zero para mim. Outra dica valiosa, trastes inox. Se você colocar, nunca mais vai se incomodar. A durabilidade é ignorante compara aos normais.
4 – Preço de revenda. Você já está pagando menos em um instrumento usado, então para passar ele no futuro para outra pessoa você sabe que depende de muitos fatores para ele não desvalorizar. Depende do preço praticado no mercado, da valorização da moeda ou então de algum fator adicional como saída de modelo de linha. Você pode dar a sorte da sua guitarra sair de linha e virar artigo de coleção, ou ter a reputação daquela série queimada pela explosão de casos de problemas relatados na internet, muito comum no mundo dos smartphones. Resumindo. Para desvalorizar ou valorizar você depende tão somente de fatores externos que você não pode prever e muito menos controlar. Por isso compre para você usar, não para vender pois as chances de valorizar estão apenas em instrumentos que já são raros, e que consequentemente você já paga um valor altíssimo neles também. Você decide se compra para tocar ou como um investimento financeiro para o futuro.
5 – Você sabe que não é o primeiro dono. Não sabe com certeza absoluta de quem foi, de onde veio e como chegou até você. Em alguns casos você consegue um documento, uma nota fiscal. Duvide de tudo e pesquise muito. O mercado de instrumentos roubados é muito forte pois ainda não existe uma plataforma tecnológica robusta para instrumentos musicais como se tem para automóveis e equipamentos eletrônicos. Procedência é tudo!