Continuo aqui a análise que fiz sobre equipamentos novos e usados. Qual comprar?
Hoje o assunto é sobre os amplificadores, sejam eles valvulados ou transistorizados. Vamos direto ao ponto.
Novo
Prós:
1 – Produto zerado na caixa. Muitas lojas deixam apenas um para teste, e ao comprar você leva um produto novo no plástico. Por esse motivo a garantia é um diferencial. Não só possui garantia, como em caso de defeito a substituição é simples e imediata. Trocou, problema resolvido. O mesmo não acontece com as guitarras.
2 – Produto sem marcas de uso. Aqui vale lembrar que marcas de uso não são apenas batidas e riscos como nas guitarras, mas também poeira e umidade que normalmente tomam conta do acabamento. Um amplificador novinho não tem nada disso.
3 – Equipamento sem desgastes. Você sabe que o amplificador é novo, o alto-falante é novo e no caso de um valvulado, as válvulas tecnicamente estão em perfeito estado. De todos os benefícios de um amplificador novo esse creio ser o mais importante de todos. O aparelho está à mercê dos seus bons cuidados para mostrar onde ele pode chegar.
4 – Acessórios. Normalmente o mercado de amplificadores não é como as guitarras onde tudo é vendido de forma separada. A maioria dos amplificadores já acompanha Footswitch + cabo, capa, manuais, speaker cable, etiquetas de garantia, adaptadores de tomada e em alguns raros casos uma lâmpada reserva para o painel.
5 – Assim como no post das guitarras: Procedência. Você sai da loja com um documento, uma nota fiscal. É seu e você sabe de onde veio. A maioria dos amplificadores hoje também já possuem número de série. Sempre tenha salvo online fotos do seu equipamento e de todas as numerações de série existentes neles. Pode ser de grande utilidade no futuro. Eu particularmente salvo até as notas fiscais. Se você costuma viajar, é imprescindível ter isso em mãos.
Contras:
1 – Preço. As guitarras já desvalorizam como vimos anteriormente, os amplificadores por serem produtos eletrônicos desvalorizam ainda mais. O preço dele novo é incrivelmente mais alto que um idêntico, comprado no dia anterior e disponibilizado à venda por algum arrependimento. Resumindo. Novo é caro, importado é mais caro ainda.
2 – Um amplificador novo também é um “kinder-ovo”. Apesar de não dar dores de cabeça com madeiras, pode dar outras tão incômodas quanto. Um amplificador novo não significa que é perfeito. Foi testado por alguns segundos na linha de produção e só vai ser ligado novamente nas mãos do cliente final. O contra de ser vendido embalado novo na caixa é este. Tive um valvulado que comprei novo. Toquei com ele em casa e desde o primeiro dia dava estalos no som. Li na internet que era um problema comum causado por soldas defeituosas. Levar na loja não iria resolver. Só iriam me dar outro zerado com o mesmo problema pois foi uma série grande que veio com isso. Um dia com a ajuda de um amigo abri e refiz todas as soldas e nunca mais deu estalos no som. Hoje ele já não está comigo, mas até onde sei continua firme e forte sem nenhum problema, mas aprendi a lição sobre amplificadores novos. Alguns amplificadores saem de fábrica com problemas muito mais sérios, como transformadores mal dimensionados. Então lembre-se. Amplificador novo pode sim trazer muitas surpresas.
3 – Componentes. Tanto os transistorizados como os valvulados podem não vir de fábrica com os componentes de maior qualidade disponíveis no mercado. Então dependendo do amplificador que for comprar, considere um gasto adicional para algum upgrade. Seja ele capacitores, válvulas, transformadores e principalmente alto falantes. Embora não precisem de uma regulagem como as guitarras, eu recomendo vivamente levar para um técnico um amplificador novo de fábrica para conferir o ajuste de Bias das válvulas. Faça isso antes de descobrir que estava tudo desregulado torrando as válvulas novinhas e consequentemente o seu dinheiro.
4 – Um amplificador novo você não pode pegar emprestado para testar em casa, no estúdio ou no palco. Tenha a certeza que ele realmente atende o que você procura. Na loja no meio da emoção, muitas vezes sem a sua própria guitarra e com a pressão do vendedor você acaba achando que o amplificador atende todas as suas necessidades. Não compre na pressa. Toque em mais de um, em outras lojas, com várias guitarras ou com as suas. Tenha em mente o que você precisa e se ele realmente vai resolver o seu problema. A internet pode te ajudar muito, então pesquise!
5 – Revenda. Como já disse, você perde uma grana legal na revenda. E o problema não para por aí. Simplesmente anunciar algo seminovo não resolve. Vejo que muitas pessoas preferem comprar algo mais usado em algum negócio “bem-bolado” do que pegar um amplificador seminovo sem nenhum a mais. A maioria dos anúncios que vejo os vendedores são obrigados a fazer promoções com produtos adicionais para impulsionar a venda como pedais, cordas, afinadores ou até hard cases personalizados. Então já sabe. Se pegar um amplificador novo e quiser revender, tenha paciência ou então monte um combo legal senão o povo não pega.
Usado:
Prós:
1 – Preço. Sempre mais em conta e você pode tentar um rolo que é mais fácil que com instrumentos.
2 – Um amplificador usado já não traz tantas surpresas do ponto de vista da fábrica. Se não tem problemas, passou no teste, se já teve e foi reparado por uma pessoa qualificada, pode ter a certeza que ficou melhor do que o original. São amplificadores mais confiáveis por esse motivo. Claro, se bem cuidados. Mas um amplificador é fácil ver se foi bem cuidado, tanto pela estética como pelo funcionamento. É só ter atenção.
3 – Componentes. Muitos já passaram por alguma melhoria, e os que não passaram, já estão “amaciados”, como é o caso dos alto-falantes. Você amaciar um do zero leva um bom tempo. Para quem toca bastante, creio que em uns três meses para saber definitivamente como o amplificador irá soar dali para a frente. Para os que tocam pouco, esse dia nunca chega. É aí que muitas pessoas se arrependem ao comprar um amplificador novo. Não esperam o tempo mínimo para começar a amaciar o bicho, acham o som duro e vendem pensando que ele não é bom. Por isso os usados já são mais plug-and-play.
4 – Um amplificador usado é mais tranquilo para testar com calma. Você conversa diretamente com o vendedor, leva a sua guitarra para testar, ou até mesmo traz o amplificador para gravar, tocar ao vivo, ensaiar… É mais tranquilo para uma tomada de decisão.
5 – “Achado”. No mundo dos anúncios de amplificadores usados encontram-se verdadeiros achados. É possível encontrar modelos que nenhuma loja tem, e isso não significa propriamente que serão caros por serem mais raros. Existem ótimos negócios à espera daquele que tem paciência para fuçar e negociar.
Contras:
1 – Revenda. Como comprador é pró, como vendedor é contra. Você precisa praticar um preço de mercado, não aquele que acha justo em relação ao que pagou e o cuidado que teve com amplificador. Não importa se você cuidou dele muito bem e até dormiu abraçado com ele. O mercado irá ditar o preço médio que ele vale. E muitas vezes o que dita o preço do mercado é a situação econômica do país e o desespero das pessoas em se recapitalizar. Muito cuidado.
2 – Assim como quem compra um usado tem a praticidade de testar com mais facilidade, quem vende precisa ser flexível e se colocar no lugar do comprador. Nem sempre é fácil ficar correndo atrás, acompanhando o músico em ensaios ou shows para ele testar o equipamento que você está vendendo. Mas dependendo da situação, do produto e do comprador, você terá que engolir esse sapo e colaborar se quiser mesmo vender o equipamento. Eu sugiro ser flexível, mas não uma mãe. Tome a frente sempre em sugerir um teste, em algum local público, um estúdio de ensaios de confiança de preferência. Cuidado com a internet, você não sabe quem responde lá do outro lado. Os mesmos cuidados que você teria ao conhecer uma pessoa deve ter ao vender um produto.
3 – Estado do equipamento. Eu disse que os usados normalmente já possuem alguma melhoria e tal. Mas não podemos esquecer do outro lado da moeda. Muitos vendedores irão descrever os seus produtos como “zeradinho”, “revisado” ou então “com upgrades” por pura conveniência. É nessa hora que quem for comprar precisa ter um olho clínico. Primeiro check: Potenciômetros. Teste e sinta na mão se todos estão com o curso macio e igual. É possível perceber quando foi substituído ou se tem um desgaste maior em relação aos outros. Ele gira mais solto e seco. Ligue o amplificador em um volume consistente e veja se nenhum desses potenciômetros gera ruídos no som durante o curso.
4 – Estado das válvulas. Separei um tópico só para elas pois é um assunto importante. Um amplificador valvulado usado você não tem como adivinhar o real estado das válvulas. Mas vou tentar dar algumas dicas que podem ajudar, mas que não são de maneira alguma um veredito sobre o tema. O ideal seria levar um testador de válvulas, tirar uma por uma e testar. Mas nem todo mundo tem um, eu mesmo não tenho. Então nesse caso específico recomendo a dica de aproveitar a flexibilização do vendedor e pedir para levar para um técnico de confiança dar a opinião dele sobre as condições gerais do amplificador para você. Mas em um primeiro momento toque no amplificador, veja se o comportamento dele é bom em todos os volumes, inclusive no máximo. Certifique-se que as válvulas não estão gerando apitos quando em volumes altos ou com o ganho no máximo. Dê pequenos toques nas válvulas com uma caneta e veja se não estão criando ressonâncias, apitos ou ruídos parecidos com o de um chocalho. As válvulas já muito desgastadas apresentam todos estes problemas.
Tenha cuidado ao comprar amplificadores com válvulas de várias marcas misturadas. Existem curiosos como eu que fazem essas misturas procurando determinadas sonoridades, mas muitos vão em autênticos balaios de válvulas velhas buscar as menos piores só para deixar o amplificador funcional para a venda.
Repare se o brilho das válvulas é o mesmo. Um par de válvulas de potência por exemplo deve ter o mesmo brilho. Com todas as válvulas desligadas veja se nenhuma possui trincado no vidro perto dos terminais de encaixe no soquete. Esbranquiçados no vidro também são sinais de válvulas com problemas ou com fugas pelo vidro. Alguns amplificadores híbridos a detecção é mais difícil pois as válvulas deixam de funcionar, mas o amplificador continua com som.
5 – Alto falante. Em um amplificador usado você não sabe o real estado do Alto Falante. Não sabe pelo que o coitado passou. Se foi sempre utilizado da forma correta, na impedância correta e potência, tudo bem. Mas muitos espertinhos aproveitam para outros amplificadores, com potências superiores à suportada pelo alto falante, gerando danos irreversíveis no mesmo. Nesse caso a única dica que posso dar é testar muito bem. Com o som limpo no máximo e distorção no máximo. Veja se ele não apresenta um som recortado, típico de falante estourado. E se não apresentar nenhum problema, toque e sinta se ele soa bem, se as frequências são definidas e o som é bom. O seu ouvido é o seu grande aliado nessas horas. Por isso sugiro o teste em um estúdio. Em palco você não vai ouvir nada, é muito barulho. Reserve um momento íntimo a dois com o seu possível futuro amplificador.