Quando comecei a tocar guitarra me apaixonei pelo mundo da eletrônica. Mais precisamente a eletrônica analógica e posteriormente o mundo das válvulas. Relutei e reluto em alguns aspectos até hoje para aceitar o mundo digital no que toca equipamentos para guitarra. Efeitos ao menos para mim nem sequer entram na lista. O único que abri espaço foi o delay, mas ainda prefiro os robustos analógicos. Sempre que me falavam em programação eu achava algo insano, caro e instável. Não me inspirava confiança. Na época em que comecei a brincar com eletrônica os integrados programáveis eram caros, consumiam muita energia e “do nada” acontecia de perderem tudo o que foi gravado. Dependendo das ligações feitas isso podia até queimar componentes. Além de todas essas desvantagens, era preciso comprar um programador para passar o código, que era grande, caro e instável no seu funcionamento e na comunicação com o integrado.
Semanas atrás rolou uma festa de final de ano lá na empresa e tive mais contato com um colega que trabalha no nosso departamento de engenharia. Já tinha ouvido falar muito do Arduino, mas nunca corri atrás por todos esses motivos. Ele começou a me contar as coisas malucas que fazia tanto na empresa como em casa com esse módulo. Perguntei se poderia controlar pedais e criar combinações para ativar durante uma música, por exemplo. Ele me disse que isso não era nada e que eu podia até controlar a luz do meu quarto pela internet. Além disso um módulo é super barato, pode ficar anos desligado sem perder a informação gravada e a forma de programação é relativamente simples. Basta ter um computador com USB e ele é compatível com todos os sistemas operacionais.
A minha ideia por enquanto não é a automação residencial. Pensei logo em como usar isso para os meus equipamentos musicais. De todas as opções ainda fiquei com o controle dos pedais que é a coisa mais útil para mim. Não tem preço usar pedais analógicos, e muito menos poder sair de uma base com um overdrive e em uma só pisada atacar uma bela distorção com um gracioso delay embutido. Em um pedalboard tradicional isso dá um trabalhão e vira um autêntico sapateado moscovita.
Existem nos mercados internacional e nacional controladores de pedais e também em sites e foruns DIY. A maioria usa 3pdt ou relés para esse chaveamento. Os mais versáteis usam também dip switches para você criar as combinações e alterá-las quando quiser.
Estes com dip switches são legais, mas te obriga sempre a pisar mais uma vez para voltar ao bypass, e também limita o guitarrista na hora de trocar combinações.Você tem que pisar para desligar uma e depois pisar no outro botão para a outra combinação, o que não elimina por completo o problema do sapateado. Outra coisa limitada é trocar as funções dos botões.
Você não pode trocar rapidamente as funções dos botões já que requer mudar muitas chavinhas nos dip swiches e testar para ver como fica a combinação final. Sem contar que anotar cada “patch” desejado num papel é duro.
Foi pensando nessas coisas em conjunto com o Arduino que resolvi montar algo moderno que resolvesse algumas dessas limitações.
Comprei uma placa por 50 reais e iniciei a fase de protótipos. Estou testando em módulos e construindo um só projeto com os melhores resultados de cada.
Aqui entra a fase experimental:
Cada switch preto representa um botão de pisar e cada led representa um pedal. Este protótipo foi desenvolvido para ser utilizado com 3 pedais, criando assim as seguintes combinações:
Botão 1 – Liga e desliga o pedal 1
Botão 2 – Liga e desliga o pedal 2
Botão 3 – Liga e desliga o pedal 3
Estes primeiros botões programei para serem acionados em forma de soma, ou seja, se pisar no primeiro e depois no terceiro, eles ficarão ligados e um não anulará o outro.
Botão 4 – Liga o pedal 1 com o pedal 3
Este já é um botão de preset. Ao pisar neste botão novamente o aparelho fica em bypass. Se pisar no botão 2 ele anula o preset e liga só o pedal 2. Se pisar em um dos botões dos pedais já ligados no preset, ele irá desligar o pedal pisado. Por exemplo:
O preset é pedal 1 com o pedal 3. Se pisarmos no botão 3 ele irá desligar o pedal 3, mantendo o 1 ligado. Tudo isso pode ser programado de acordo com a necessidade.
Botão 5 – Liga o pedal 2 com o pedal 3. O resto é igual ao que falei para o botão 4.
Botão 6 – Este botão quando pisado desliga TODOS os pedais ou combinações e coloca tudo em bypass. Quando o bypass está ativo, um led liga e fica pulsando.
Aqui o vídeo para mostrar melhor como funciona:
Usei leds no protótipo que serão substituídos por relés para controlar os pedais.
No próximo post sobre o tema vou falar sobre eles.