Talk Box de uma forma descomplicada

Em primeiro lugar: Neste artigo podem surgir expressões que não constam como padrão na construção deste aparelho. Expressões estas como Talk Box Passivo, Ativo ou Completosão apenas utilizadas de maneira a facilitar o entendimento do leitor sobre o que é falado, de forma direta, sem levantar assim grandes dúvidas sobre o tema. Toda e qualquer crítica ou correção do presente material é muito bem vinda e apreciada.
Descrição geral: O efeito “Talk Box” consiste no som de um instrumento (guitarra, teclado, etc…) projetado através de um tubo até a boca, que age como meio (caixa) acústico. Pode-se dizer que é um efeito de “modulação real” pois com a boca pode-se criar vários tipos modulações incluindo palavras. É possível cantar só ao mexer dos lábios sem utilizar a voz. Muitas vezes denominado como um “Brinquedo caro”, o Talk Box já vem sendo utilizado a muitos anos por guitarristas como Joe Walsh e Peter Frampton.
Para entrar no mundo deste divertido efeito, temos de falar do falante ou “horn” que possibilita este efeito existir.

O “horn drive” ou “pinha” como é chamado não é mais do que um alto-falante feito para ser acoplado a algum tipo de cone ou “corneta” que distribui o som. É muito utilizado pela polícia, ambulâncias, Kombi da fruta, carro de campanha política ou então no clássico “Pour Elise” dos caminhões de gás que alegraram a nossa infância e permanecem vivos até hoje em várias regiões do Brasil.
Como devem imaginar, são artefatos construídos para produzir um elevado nível de pressão acústica e com uma relativa baixa qualidade sonora. Trabalha de uma forma mais eficaz em frequências altas e médias e os graves são particularmente débeis. Mas para o fim que queremos dar servem perfeitamente. Em algumas casas de eletrônica ou som automotivo é possível encontrar só o horn para substituição mas normalmente eles são mais caros que comprar o conjunto montado. Existem horn drivers de grande qualidade com boas respostas de frequências, mas estes são extremamente caros e grandes e não são nada práticos para um músico transportar. Ver foto:

Vale a pena dizer ainda que é preciso ter cuidado ao comprar. É normal confundir com os twiters que vemos nas lojas, mas estes não servem. São utilizados APENAS para frequências muito altas e não servem para fazer um Talk Box.
 
Para quem não consegue de jeito algum encontrar este componente ou apenas encontra a um preço muito elevado, existe ainda a opção de utilizar um falante normal com cerca de 4 polegadas e acoplá-lo com borrachas gradualmente até conseguir a expessura fina do tubo. Para quem quer “brincar” ou então fazer gravações em estúdio considero uma alternativa válida e prática, mas para uso profissional ao vivo é uma solução pouco atrativa pois o fato de acoplar um falante envolve perdas de pressão acústica e definição de som, o que faz necessário um circuito com grande potência que é caro e tem componentes grandes e pesados como o dissipador de calor, e claro, o transformador. Todo este aparato obriga a uma montagem gigantesca, pesada, muito mais cara e pouco fiável em termos profissionais. Penso que é mais fácil procurar o horn ou então comprar um falante (sirene) e desmontar.
Na internet conseguimos encontrar alguma informação sobre este efeito. Mas toda ela é muito limitada, resumida ou então apenas descreve o conceito por alto sem apresentar informação detalhada como em outros pedais que encontramos por aí.
Na internet eixste alguns tutoriais para converter caixas de som de computador com um funil em um Talk Box. É um bom início para quem quer compreender como funciona e experimentar de forma barata antes de partir para algum projeto mais sério e dispendioso. Nada como começar com uma gambiarra!

 

Existem basicamente 3 tipos de Talk Box:
Talk Box “Passivo”
Talk Box “Ativo”
Talk Box “Completo”
Talk box “Passivo”: Consiste em ligar o horn diretamente à saída do amplificador e o sinal entra diretamente no horn. Este método inclui uma caixa onde fica o horn e um switch que comuta entre o horn e o falante do amp. Na prática funciona como um “Bypass” que desliga o som do amplificador quando usamos o Talk Box e o som sai pelo tubo, posteriormente amplificado por um microfone para o PA.
Um modelo comercial deste tipo de Talk Box é o Dunlop Heil Talk Box.
Prós: É extremamente simples de construir. Só necessita de uma pequena caixa, o horn, um DPDT para a comutação e dois jacks. É uma montagem passiva pois não requer nenhum tipo de circuito, uma vez que o próprio amplificador do instrumento fornece o sinal pronto para o horn. Outra vantagem interessante é o fato de receber toda a potência do amplificador, o que dá um volume final alto na saída do tubo e favorece a captação pelo microfone em lugares mais ruidosos (Exemplo: Um show).
Contras: Envolve algum cuidado e conhecimento sobre a carga resistiva do amplificador em questão utilizado. O horn não é mais do que um alto-falante e como qualquer componente deste tipo tem uma carga resistiva própria. Exemplo: Ligar um horn de 4ohms em um amplificador preparado para 8ohms não é uma boa ideia. Sem contar o fator potência, um horn de 30w em um amplificador preparado para fornecer 100w. Você pode queimar tanto o horn como o amplificador, por isso, cuidado! Com este primeiro contra, torna-se óbvio que um Talk Box construído nestes parâmetros não é universal e tem de ser preparado para um amplificador específico e apenas utilizado naquela combinação. Requer uma reavaliação de impedâncias e potências para ser utilizado com outros amplificadores. Numa visão ainda mais exigente ainda resta a desvantagem das ligações por cabos ao amplificador, pois estes ficam pelo chão e se levarem um puxão podem se desconectar do aparelho deixando o circuito aberto, que no caso de amplificadores sem proteção pode resultar em danos graves ao amplificador (Exemplo: Amplificadores valvulados). Com estas informações, é natural surgir a curiosidade em saber como o modelo comercial Dunlop Heil Talk Box é vendido sem problemas. A solução encontrada pelo fabricante foi utilizar um horn com uma impedância de 8ohms, típica nos amplificadores de guitarra. A potência máxima é de 100w tendo em conta que os amplificadores de guitarra não passam muito desta potência. É claro que se o amplificador operar a uma impedância superior a 8ohms ou uma potência superior a 100w não poderá utilizar este Talk Box disponível no mercado. Como já diz no manual do fabricante: “Caution: The Talkbox is an 8 ohm speaker rated at 100 watts max power or 50 watts RMS. Check the specifications on your amplifier to verify that it will not overpower the Talkbox”
Talk box “Ativo”: Consiste na construção do aparelho em que o horn está ligado a um pequeno amplificador interno de baixa potência (De 5w a 8w).
 
Um modelo comercial deste tipo de Talk Box é o Rocktron Banshee Talk Box:
 
Prós: A mais nítida vantagem deste tipo de construção é a possibilidade de ligar o aparelho normalmente na cadeia dos pedais ou no loop de efeitos do amplificador sem ter preocupações com potências, impedâncias ou possíveis danos ao amplificador. É um pedal totalmente independente do amplificador do instrumento e faz do seu transporte e utilização algo muito mais simplificado.
Contras: Este tipo de Talk Box assim como o “Passivo”ainda requer um microfone e um amplificador externo, no caso um PA para amplificar o som.
Talk Box “Completo”: Como o nome já diz, é completo, totalmente independente tanto do amplificador do instrumento como da utilização de um PA externo. Assim como o ativo, possui um circuito que amplifica diretamente o som do instrumento para o horn e o som sai pelo tubo. Mas este gênero de Talk Box possui também um pequeno circuito interno que amplifica o sinal do microfone e envia o sinal para o próprio amplificador do instrumento, dispensando assim a utilização do PA.
Um modelo comercial deste tipo de Talk Box é o Danelectro Free Speech:

 

Prós: Por ser um pedal completo não é preciso falar muito sobre as suas características positivas pois são muitas. Fácil de transportar, pode-se ligar diretamente com os pedais ou loop do amplificador e não requer um amplificador externo para o microfone.
Contras: Infelizmente só existe o Danelectro Free Speech disponível no mercado para este tipo de Talk Box. É um pedal que levanta algumas queixas por parte dos utilizadores pois tanto o som que sai pelo tubo é muito baixo como o microfone e o seu respectivo pré-amplificador são muito fracos, o que faz deste aparelho comercializado uma opção indicada mais para aplicações em estúdio. Ao vivo ocorre o problema de mistura com sons externos o que obriga a elevar o volume do amplificador, causando problemas de feedback. No caso este contra aplica-se apenas ao pedal disponível no mercado, não para pedais handmades que podem ter todos estes pontos corrigidos. No caso de montar este pedal a única desvantagem é ter que adaptar um microfone dinâmico simples para captar o som da boca. Microfone este que já é necessário em todos os outros tipos mencionados neste artigo. Apenas fiz este comentário pois o Talk Box “Completo”disponível no mercado pela Danelectro já possui o microfone que é pequeno e acoplado ao tubo. Ver foto:

Espero ter colaborado para um melhor entendimento deste efeito. Penso não ser um efeito indispensável na vida de um guitarrista, mas é sempre legal aprimorar o que já sabemos e conhecer coisas novas.

Um abraço e até o próximo post!